Morre aos 117 anos a italiana Emma Morano, última sobrevivente do século XIX

Morano atribuía sua longevidade a décadas de celibato e seu regime improvável: três ovos diários durante quase um século

AFP

Ao longo de sua vida, a italiana testemunhou a passagem de 11 papas, três reis da Itália e 12 presidentes da República - Foto: AFP / OLIVIER MORIN


A italiana Emma Morano, a última sobrevivente conhecida do século XIX e supostamente a mulher mais idosa da humanidade, morreu neste sábado em sua residência em Verbania (norte), aos 117 anos e 137 dias, anunciou a imprensa local.

"Ela teve uma vida extraordinária e sempre nos recordaremos de sua força por seguir adiante", declarou o prefeito de Verbania, citado pela imprensa.

Segundo o Gerontology Research Group (GRG), um grupo americano que busca e certifica as pessoas mais idosas do mundo, a decana da humanidade agora é uma jamaicana, Violet Brown, nascida em 10 de março de 1900.

O mesmo grupo afirmava que Emma Morano, nascida em 29 de novembro de 1899, era a última pessoa conhecida nascida antes de 1900.

Morano, uma mulher obstinada e independente que conservou sua autonomia até os 115 anos, atribuía sua longevidade a décadas de celibato e seu regime improvável: três ovos diários durante quase um século.

Ao longo de sua vida, testemunhou a passagem de 11 papas, três reis da Itália e 12 presidentes da República, mas não chegou a superar o recorde absoluto da francesa Jeanne Calment, que viveu até os 122 anos.

Seu primeiro amor desapareceu durante a Primeira Guerra Mundial, e acabou se separando de um marido violento após a morte de seu único filho com poucos meses. Isso foi em 1938, três décadas antes da aprovação da lei do divórcio na Itália.

A partir desse momento, viveu sozinha, em um momento em que isso não era comum, e trabalhou até os 75 anos em uma fábrica de bolsas.

Aos 115 anos, decidiu aceitar a ajuda de uma enfermeira em tempo integral.

Em novembro de 2016 recebeu a AFP em seu apartamento, entre um armário repleto de caixas de papelão, uma série de imagens religiosas, seu diploma de "Decana da Humanidade" do Guinness World Records e uma fotografia dela com seu médico Carlo Bava com ovos na mão.

Poucos médicos e nutricionistas, entretanto, recomendariam a dieta de Emma Morano.

Diagnosticada com uma anemia aos 20 anos, ela seguiu o conselho de um médico que lhe recomendou comer três ovos diários -dois crus pela manhã e um na tortilha do meio-dia.

Mais de 100.000 ovos


Ela seguiu rigorosamente esse regime, chegando a consumir com o tempo mais de 100.000 ovos, antes de sucumbir nos últimos anos a uma paixão pelos biscoitos.

"Emma sempre comeu muita pouca verdura e muita pouca fruta", contava o doutor Bava, que a acompanhou durante 30 anos e atribuía sua longa vida à genética. Sua mãe viveu até os 91 anos e duas irmãs foram também centenárias.

Seu regime, muito longe da famosa dieta Mediterrânea, deveria ter prejudicado seu fígado e a poeira da fábrica em que trabalhava, os pulmões. "Mas com Emma, acho que ela poderia ter comido pedra e ainda assim viveria muito tempo", brincou o médico.

A regularidade de sua vida e seu forte caráter também ajudaram. Emma Morano nunca quis por os pés em um hospital, nem para operar a catarata.

Ela via e ouvia muito mal, se expressava com dificuldade e passava grande parte do dia dormindo. Mas sua mente se manteve ágil e tinha muito senso de humor.

"Como está o meu cabelo, estou bem?", perguntou antes de posar para a fotografia de seu aniversário de 117 anos em novembro de 2016.

"O que mais me surpreende é sua memória.

Não esquece de nada", contou, na época, Yamile Vergara, a enfermeira colombiana que a acompanhava desde meados de 2015.

"O bom humor é sua terapia. Eu a faço rir e ela me faz rir", contou Vergara. "Quando a chamo de "minha bambina" (minha menina), ela me responde 'nada de menina. Você não vê que sou mais velha que Matusalém?'".

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