Ismail Haniyeh é eleito líder do movimento palestino Hamas

AFP

O ex-primeiro-ministro palestino Ismail Haniyeh foi eleito neste sábado (6) à frente do gabinete político do Hamas, no poder na Faixa de Gaza - anunciaram os veículos de comunicação do movimento islamita.

"O conselho da Shura do Hamas elegeu Ismail Haniyeh, neste sábado, como chefe do gabinete político do movimento", informou o grupo em seu site oficial.

O movimento está "convencido da necessidade da alternância no poder", declarou seu porta-voz, Hazem Qassem, à AFP.

Nascido em 1963, Haniyeh sucede a Khaled Mechaal, que cumpriu o máximo de dois mandatos autorizados pelo movimento.

Na eleição, ele derrotou Mussa Abu Marzuk e Mohamed Nazzal, após uma votação por videoconferência dos membros da Shura em Gaza, na Cisjordânia e fora dos territórios palestinos.

Um porta-voz do Hamas em Doha, o exilado Khaled Mechaal, confirmou a eleição de Haniyeh.

Ao contrário de seu predecessor que vivia no exílio no Catar, Haniyeh permanecerá no pequeno enclave, sob bloqueio israelense há mais de uma década, para dirigir o Hamas.

Segundo a pesquisadora Leila Seurat, do Centro de Pesquisas Internacionais (CERI) de Paris e especialista no Hamas, "esta eleição marca uma ruptura, porque pela primeira vez um líder de Gaza é eleito".

Ela nota que, desde a época do chefe espiritual do Hamas, xeque Yassin, os líderes se instalavam fora dos territórios palestinos.

Aliviar o isolamento internacional

O anúncio da nova liderança do Hamas acontece apenas alguns dias após o movimento anunciar pela primeira vez em sua história uma mudança em seu programa político, dizendo aceitar um Estado palestino limitado às fronteiras de 1967.

O texto também insiste no caráter "político" e não "religioso" do conflito com Israel, refletindo o pragmatismo de Haniyeh. Isso significa dizer que não seria uma luta contra os judeus, mas contra Israel como ocupante.

Embora sem reconhecer o Estado judeu, o Hamas estima que "um Estado palestino plenamente soberano e independente dentro das fronteiras de 4 de junho de 1967, com Jerusalém como capital, (...) é uma fórmula de consenso nacional".

O Estado hebreu, que combateu o Hamas em três guerras entre 2008 e 2014, os Estados Unidos e a União Europeia consideram este movimento como um grupo "terrorista".

Hoje, o Exército israelense lançou uma mensagem, na qual parecia pedir a Haniya que não busque um novo confronto.

"#Hamas elegeu um novo líder. O momento para a promessa e para a esperança?", tuitou o porta-voz do Exército israelense, coronel Peter Lerner.

"Espero (que Haniya) tome boas decisões para os palestinos que aspira a liderar", acrescentou.

De acordo com especialistas, com as mudanças realizadas em seus textos fundadores, denunciados por muitos como "antissemitas", o Hamas tenta voltar para o jogo das negociações internacionais.

"Mechaal já havia aberto uma nova fase de abertura à comunidade internacional. Haniyeh vai continuar neste caminho", disse neste sábado à AFP o porta-voz do Hamas em Gaza, Fawzi Barhoum.

Já o movimento islamita radical palestino, a Jihad Islâmica, rejeitou neste sábado a reviravolta política do Hamas.

"Na qualidade de sócios dos irmãos do Hamas na luta pela libertação, estamos preocupados com o documento (adotado pelo Hamas)", disse o adjunto do chefe da Jihad Islâmica, Ziyad al-Najala.

"Nós nos opomos à aceitação por parte do Hamas de um Estado com as fronteiras de 1967 e estimamos que é uma concessão que atenta contra nossos princípios", completou esse líder da Jihad.

Najala disse que a nova política do Hamas "leva a um ponto morto e apenas pode levar a soluções pela metade".

Fundada no início dos anos 1980 após a Revolução no Irã, aliado próximo e fonte de inspiração ideológica, a Jihad Islâmica é a segunda força na Faixa de Gaza e aposta totalmente na ação armada.

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