Com um cocar de plumas brancas e azuis, o líder da etnia indígena guarani-kaiowá, Ládio Veron, denunciou neste sábado (20), em Paris, o genocídio, do qual diz que seu povo é vítima no Mato Grosso do Sul.
"Fizemos uma longa viagem pela Europa para denunciar o grande genocídio do qual somos vítimas", disse Veron à AFP, durante uma manifestação organizada em apoio a esse povo indígena, em frente à Torre Eiffel.
Representante de mais de 45 mil indígenas da etnia guarani-kaiowá, uma das maiores do Brasil, Veron está em uma turnê pela Europa para alertar sobre a ocupação de suas terras, a qual ameaça a sobrevivência de seu povo.
Há mais de uma década, os guarani-kaiowá tentam recuperar cerca de 9.300 hectares que o Poder Executivo chegou a reconhecer como suas terras ancestrais. Atendendo à reivindicação de fazendeiros da região, o Supremo suspendeu por tempo indeterminado os efeitos desse reconhecimento em 2005, e os indígenas foram expulsos.
Desde então, vivem "confinados em pequenos pedaços de terra cercados de fazendas de gado e de extensos cultivos de soja e de cana de açúcar", segundo a ONG Survival.
"Alguns não têm terras e se veem forçados a acampar na beira da estrada", completa a ONG, defensora dos direitos dos povos indígenas.
"Nossos direitos constitucionais estão sendo violados pelo governo brasileiro", afirmou Veron, que acusa o governo Michel Temer de impedir a demarcação de terras indígenas.
Com a chegada de Temer ao poder no ano passado e com um Congresso sob forte influência da bancada ruralista, ganharam força iniciativas para restringir o direito dos indígenas de permanecerem em suas terras ancestrais.
Exemplo disso é uma reforma em tramitação no Congresso, que busca transferir do Executivo para o Legislativo a competência para demarcar essas terras. De acordo com a ONG, isso suspenderia a demarcação.
"A Europa deve saber de onde vem a soja que estão consumindo e como se produz", declarou Veron, que aceitou posar para fotos com alguns curiosos.
O périplo do cacique, que já passou por Espanha, Grécia, Itália, Reino Unido, Alemanha e Áustria, também tem como objetivo criar uma rede de apoio para que cada país se comprometa a enviar observadores.
"Em Madri e Barcelona, pudemos falar com vários parlamentares e ONGs para conseguir apoio", conta, animado com a boa recepção.
Na segunda-feira (22), ele participa de um encontro com autoridades dos povos autóctones da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e, na terça (23), de uma reunião pública no Senado francês, antes de seguir sua viagem por Montpellier (sudoeste), Marselha (sudeste) e Lille (norte).
De acordo com o último censo (2010), vivem no Brasil 896.900 indígenas de 305 etnias, o correspondente a 0,4% da população, de 202 milhões de habitantes. Suas áreas ocupam 12% do território.