Grande nome do cinema independente de Nova York, o diretor Noah Baumbach apresentou neste domingo "The Meyerowitz Stories" no Festival de Cannes, uma comédia ao mais puro estilo Woody Allen com um elenco estelar, liderado por Dustin Hoffman e Ben Stiller.
O outro filme exibido no domingo na disputa pela Palma de Ouro foi o francês "Le Redoutable", de Michel Hazanavicius, sobre o lendário cineasta Jean-Luc Godard, ambientado no contexto de maio de 1968 na França.
Com todos os ingredientes próprios das comédias de Woody Allen, o novo filme de Baumbach narra o reencontro de uma família nova-iorquina ao redor do patriarca, um artista em decadência. Aos poucos, as feridas e rancores do passado retornam, entre refeições e reuniões familiares.
"O que me interessa em meus filmes é a diferença entre o que somos realmente e o que gostaríamos de ser. Neste filme eu queria abordar o tema do sucesso, o que o sucesso significa para diferentes pessoas", afirmou o diretor após a exibição para a imprensa.
"The Meyerowitz Stories" recorda em alguns momentos o estilo do diretor de "Manhattan" e "Hannah e suas Irmãs": personagens histéricos, velhos rabugentos, diálogos afiados, situações hilariantes, enredos familiares...
No epicentro da trama, o veterano Dustin Hoffman interpreta um outrora famoso escultor. Ben Stiller, ator que já trabalhou outras vezes com Baumbach, e Adam Sandler interpretam os filhos, enquanto a britânica Emma Thompson completa a família. O filme conta ainda com uma ponta de Sigourney Weaver.
Sandler, mais conhecido por seus papéis em comédias que muitos críticos consideram apelativas, desta vez foi bastante elogiado pela imprensa por sua interpretação de um músico sem trabalho e em processo de divórcio. Algumas publicações chegaram a especular seu nome como um possível vencedor do prêmio de melhor ator.
"Como Adam Sandler pode ser bom quando não protagoniza filmes típicos de Adam Sandler", afirmou o site Indie Wire. O jornal britânico The Guardian o considera um "ator formidável na tela".
Noah Baumbach, diretor dos recentes "Enquanto Somos Jovens" e "Frances Ha", se tornou uma figura importante do cinema independente americano.
"The Meyerowitz Stories" é o segundo filme do Netflix em Cannes, ao lado do sul-coreano "Okja". A seleção provocou grande polêmica porque a plataforma de streaming não exibirá os filmes nas salas de cinema da França.
Ao falar sobre a controvérsia, o diretor recordou seu apego pelas salas de cinema.
"Faço todos os meus filmes com o objetivo de que sejam projetados em uma grande tela", disse, ao mesmo tempo que celebrou o "apoio" da empresa americana.
- Godard em Cannes -
O filme de Michel Hazanavicius (diretor de "O Artista") sobre o cineasta francês Jean-Luc Godard foi o outro filme em competição exibido neste domingo.
A comédia, que mostra a vida do diretor de "Acossado", "Viver a Vida", entre outros, em pleno maio de 1968, era uma das produções mais esperadas. Abordar um personagem tão complexo como Godard, que continua ativo aos 86 anos, era um desafio que os organizadores do festival não poderiam deixar escapar.
No sábado, a exibição para a imprensa foi adiada em 40 minutos após um alerta falso provocado por um objeto suspeito, que provocou a evacuação de parte do Palácio dos Festivais.
Para interpretar Godard, o diretor francês escolheu o jovem ator Louis Garrel. A esposa de Hazanavicius, Bérénice Bejo, também está no elenco.
A história é inspirada no livro de memórias de Anne Wiazemsky, ex-mulher do cineasta que virou símbolo da Nouvelle Vague.
"Fiquei hipnotizada com a semelhança alucinante entre Louis Garrel e Jean-Luc. Fala como ele", declarou recentemente à AFP Wiazemsky, de 69 anos.
"O diretor e o ator conseguiram deixar este personagem odioso (...) comovente e divertido", completou a escritora e atriz.