A crise política no Brasil pode complicar um pouco mais os esforços para integrar as economias latino-americanas, indicam especialistas reunidos no fórum da OCDE em Paris.
O ministro da Fazenda Henrique Meirelles garantiu nessa sexta-feira no fórum da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, que "agora o ponto central na região é a integração".
"A instabilidade não ajuda" nas negociações comerciais em curso do Mercosul, lamentou no final de maio o ministro da Economia uruguaio, Danilo Astori.
Em particular, as negociações de um acordo comercial com a União Europeia, negociado desde 1999 e que ambas as partes esperam concluir em 2017 após anos de idas e vindas, têm hesitações dos dois lados do Atlântico.
A preocupação do Uruguai mostra a dificuldade de manter unido um bloco que depende de governos e circunstâncias políticas em mudança.
Nessa sexta-feira, o ministro argentino de Produção, Francisco Cabrera, afirmou nesta sexta-feira que os avanços atuais no Mercosul só foram possíveis pelo "alinhamento de planetas", ou seja, a presença simultânea de Mauricio Macri e Michel Temer nas presidências de Argentina e Brasil, respectivamente.
"Os países menos favoráveis à abertura (...) têm sido tradicionalmente Argentina e Brasil", reconheceu Cabrera. "Agora estamos muitíssimos mais maduros".
O Mercosul viveu uma crise grave em dezembro do ano passado, com a suspensão da Venezuela como membro pleno por motivos políticos.
- Gigante econômico -
Junto ao Mercosul, o outro grande bloco da América Latina é a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru). A soma de ambos os grupos poderia representar até 80% do PIB da região, segundo cálculos distintos.
"As mudanças na Argentina e no Brasil fazem que essa ideia já antiga de uma convergência entre Mercosul e a Aliança do Pacífico seja mais possível hoje do que há dois anos atrás", antes da chegada de Macri e Temer, indica Carlos Malamud, catedrático de História da América e pesquisador do Real Instituto Elcano.
O sonho da integração e criação de um grande bloco que inclua as duas grandes economias regionais -México no norte e Brasil no sul- só poderá ser realizado com muito pragmatismo, segundo a economista Rebeca Grynspan, principal responsável da Secretaria Geral Ibero-americana (SGIB).
Um pragmatismo que começa pela harmonização das instituições existentes (agências de certificação de produtos, normas fitossanitárias, regulações comerciais, etc.) "sem necessidade de evoluir para um tratado internacional complicado", diz à AFP.
Esta integração "de baixo para cima" passa por uma maior mobilidade (universitária e de mão de obra), mas também por mais infraestruturas.
O objetivo é evitar, como revela um estudo recente da SGIB, que em alguns casos seja mais fácil exportar produtos do Pacífico passando por um porto do Atlântico, ao outro lado do continente.
"Produzimos em um Oceano e exportamos no outro! Do ponto de visto econômico não tem sentido dividir as regiões entre o Pacífico e o Atlântico", afirma Grynspan.
Em 2016 a região teve um Produto Interno Bruto (PIB) negativo pelo segundo ano consecutivo e para 2017 e 2018 o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um crescimento de 1,2% e 2,1%, respectivamente, abaixo da média.
Diante desse panorama, todos os atores econômicos da região repetem como um mantra a necessidade de integrar suas economias, sejam quais forem as dificuldades.
Rebeca Grynspan quer ser otimista: "as mudanças de governo podem obstaculizar mas não podem parar esses processos, porque eles são baseados em tratados internacionais, que estabelecem as regras do jogo no longo prazo".
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