Pequim, 13 - O Nobel da Paz Liu Xiaobo, um símbolo das esperanças do movimento democrático de 1989 na Praça da Paz Celestial na China, morreu na prisão nesta quinta-feira, após uma longa batalha contra o câncer, informou um comunicado do governo de Pequim. Ele tinha 61 anos e cumpria sentença de 11 anos de prisão por incitar a subversão. No início de junho, Liu recebeu liberdade condicional para tratar seus problemas de saúde. Depois disso, recebia tratamento sob guarda policial em um hospital no nordeste chinês.
Liu ficou preso desde o fim de 2008 por seu papel na elaboração e promoção de um manifesto que pedia uma transição política pacífica na China. A censura do país vetava qualquer menção ao nome dele na imprensa local e na internet. Em 2010, quando o Nobel da Paz trouxe aclamação internacional a Liu, ele era praticamente desconhecido em seu próprio país. O governo chinês o descrevia como um criminoso e qualificava os pedidos internacionais pela libertação como uma interferência no Judiciário chinês.
Um escritor e crítico literário, Liu foi uma figura influente na Praça da Paz Celestial. Ele escreveu prolificamente sobre o valor da liberdade individual e da resistência pacífica, apesar de ser proibido de publicar na China. Passou boa parte de seus últimos 28 anos na prisão ou em outra forma de detenção.
Como muitos nos círculos pró-democracia passaram a ver Liu como um possível líder. Na cerimônia de premiação em Oslo, Liu foi representado por uma cadeira vazia. O prêmio enfureceu autoridades locais, que criticaram também o governo da Noruega e restringiram importações de salmão do país europeu, embora o Comitê do Nobel seja independente. A China ainda colocou a mulher de Liu, a poeta Liu Xia, sob prisão domiciliar, na prática. O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou hoje que a China deve libertar a mulher e deixá-la sair do país, caso ela queira.
Nascido em 1955 na província de Jilin, no nordeste chinês, Liu era parte da primeira geração de intelectuais a emergir após a Revolução Cultural. Ele recebeu um Ph.D. em literatura na Universidade Normal de Pequim e ganhou fama com seus ataques, às vezes duros, contra o modo como se escrevia na época, que para ele era excessivamente ligado à tradição chinesa.
Liu era pesquisador visitante na Universidade Columbia em Nova York, em 1989, quando estudantes protestaram na Praça da Paz Celestial por reformas democráticas. Pegou um avião para participar dos protestos. Na praça, ajudou a organizar uma greve de fome dos estudantes e chegou a participar de uma delas. Com os tanques e soldados se aproximando do local em 4 de junho daquele ano, ajudou a persuadir os estudantes restantes a evitar mais mortes.
Em vez de se exilar como outros líderes do protesto, Liu seguiu em Pequim, onde acabou preso por ser um "organizador fundamental da insurreição contrarrevolucionária" e levado a uma prisão de segurança máxima perto da capital, a Qincheng. Foi solto dois anos depois, quando Pequim tentava melhorar sua imagem internacional, mas logo voltou a pressionar por reformas democráticas. Em 1996, criticou abertamente as políticas do governo para Taiwan e o Tibete e acabou sentenciado a três anos em um campo de trabalho.
Em 2008, Liu trabalhou com um pequeno grupo de ativistas e pesquisadores para elaborar e promover a Carta 08, que pedia eleições livres e a separação dos poderes. Acabou detido de novo pela polícia, em 8 de dezembro, dois dias antes da divulgação do documento, e julgado culpado por incitar a subversão.
Quando soube do Nobel da Paz, Liu chorou, segundo a mulher, e dedicou o prêmio a "todas as almas perdidas" dos protestos na Praça da Paz Celestial. Liu deixa a mulher, com quem se casou em 1996 no campo de trabalhos forçados, e um filho, Liu Tao, de um casamento anterior. Fonte: Dow Jones Newswires.