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Estado de Minas

Fronteira entre Índia e Paquistão, palco de tensões há 70 anos


postado em 14/08/2017 10:01

Setenta anos depois da partição de Índia e Paquistão, a fronteira entre os dois irmãos inimigos do sul da Ásia continua sendo, apesar da passagem do tempo, uma zona sob tensão.

Todos os dias, no fim da tarde, milhares de pessoas assistem à pitoresca cerimônia militar do fechamento da fronteira entre os dois países em Wagah, no norte. Esta semana, porém, os desfiles militares terão um significado especial, já que os dois países celebram o 70º aniversário de sua separação em 1947.

Responsável por uma das maiores migrações humanas da história, aquele acontecimento deixou um trauma permanente nas memórias do subcontinente. Entre um e dois milhões de pessoas morreram no desmantelamento do império colonial britânico na região em duas nações distintas: uma, de maioria hindu, Índia; e outra, de maioria muçulmana, Paquistão.

Em Wagah, perto da cidade de Amritsar no Punyab indiano, a disputa entre Nova Délhi e Islamabad é revivida a cada tarde pela confrontação teatral entre soldados indianos e paquistaneses.

Ao cair da noite, os militares de ambos os Exércitos se enfrentam em meio a aclamações populares. Um após o outro, os soldados indianos e paquistaneses demonstram sua agilidade de movimentos, olho no olho. Depois, baixam as bandeiras nacionais, e dois deles apertam as mãos com um sorriso forçado. As portas se fecham.

Ali, a cerimônia é inofensiva, mas, ao norte, as tensões fronteiriças ainda matam.

Na Caxemira, uma região himalaia reivindicada por ambos os países em sua totalidade e que está dividida "de facto" entre eles, a linha do cessar-fogo se encontra em estado de alerta permanente. Bombardeios e tiros transfronteiriços deixam mortos quase diariamente nos últimos tempos.

No lado indiano, milhares de civis morreram nas últimas três décadas no vale da Caxemira, palco de uma insurreição separatista derivada do conflito indo-paquistanês.

Desde o início do ano, 40 insurgentes morreram, segundo as autoridades indianas, ao tentarem entrar de forma clandestina na parte indiana da Caxemira. Nova Délhi acusa Islamabad de, por baixo dos panos, apoiar a rebelião armada nessa região. O governo paquistanês nega.

- Nova geração -

Há um ano e meio, as relações entre ambos os países são ruins, e não se espera qualquer melhora no curto prazo.

O mandato do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, eleito em 2014, começou com uma aproximação de Islamabad. O marco foi uma visita do líder nacionalista hindu ao Paquistão, no final de 2015.

Um ataque contra uma base militar reivindicado por um grupo extremista instalado no Paquistão e uma série de crise acabaram com os tímidos avanços bilaterais.

Símbolo dessas tensões: as equipes indiana e paquistanesa de críquete, o esporte mais popular nessa parte do mundo, não se enfrentam em partidas de cinco dias desde 2007.

Para o analista político paquistanês Hassan Askari, ambos os países têm suas queixas e, nesse sentido, as relações indo-paquistanesas dificilmente poderão atingir um nível pior do que o atual.

"A presente tensão entre Índia e Paquistão não é natural. Então, não espero que isso permaneça como está para sempre", disse à AFP.

"Como nenhum diálogo está acontecendo, essa relação está realmente ruim", observou.

"A Índia reduziu essa relação a uma única questão - terrorismo -, enquanto o argumento do Paquistão é que se pode falar sobre todos os contenciosos. Eles podem ser colocados sobre a mesa e discutidos", acrescentou o especialista.

De acordo com Askari, não poderá haver diálogo enquanto a Índia continuar concentrada apenas na atividade militar.

"Isso significa que praticamente não há qualquer possibilidade de diálogo no futuro próximo, porque o governo do Paquistão sequer pode se comprometer com seu próprio povo que não haverá atividade terrorista [em seu território], ainda mais falar de qualquer compromisso com a Índia", opina.

Longe da política e das posturas diplomáticas, Guneeta Singh Ballah, fundadora da ONG 1947 Partition Archive, acredita que as novas gerações possam mudar esse quadro.

"A geração que não conheceu a morte e a destruição [de 1947] sentia mais ódio em relação ao outro lado do que seus pais", explica essa mulher, que reuniu o testemunho de milhares de sobreviventes da partição da Índia.

Mas - acrescentou esperançosa - "acredito que a nova geração esteja mais decidida a virar a página".


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