Jornal Estado de Minas

Entenda como vive a população da Coreia do Norte na ditadura de Kim Jong-un


Pyongyang – Carros novos, edifícios altos, centros de estudos com milhares de computadores, um exclusivo clube de hípica, lojas com produtos encontrados em um típico país capitalista. Kim Jong-un transformou Pyongyang em vitrine do regime. O governo direciona a maior parte dos investimentos não destinados ao seu programa nuclear à capital da Coreia do Norte, onde, ao menos oficialmente, todos têm acesso a serviços básicos da melhor qualidade, além de amplas e completas instalações para atendimento nas áreas da saúde e educação, além de entretenimento.


Chama ainda mais a atenção em Pyongyang a ausência de qualquer sinal de desigualdade social ou dos mais simplórios problemas de saúde entre os seus 2,8 milhões de habitantes. Em 10 dias de estada na cidade, a reportagem não encontrou um único mendigo nas ruas, tampouco alguém descalço ou com roupas velhas. Também não avistou deficiente físico, cadeirante, nem alguém de muletas. Nem sequer uma pessoa com gesso ou faixa. É como se os moradores da capital não adoecessem.

Pyongyang abriga só a elite do país, as pessoas consideradas mais fiéis ao governo. A capital exibe um bom número de táxis e outros veículos e vive um pequeno boom na construção civil.
As guardas de trânsito, que ficaram famosas por orientar o tráfego por horas em ruas vazias, têm tido mais trabalho. Mas nada que justifique a presença delas em qualquer cruzamento da cidade onde há semáforo. Não há engarrafamento em Pyongyang. Ainda é possível ver avenidas sem um veículo por minutos, de dia. Às 21h, tudo fecha. Quase todas as luzes se apagam. Nas ruas, só se veem as fotos e estátuas do líderes iluminadas.

Os norte-coreanos não podem ter um carro próprio.
É lei, mas as elites sociais, formadas basicamente pelos integrantes dos postos mais altos do Partido Comunista, andam em táxis novos e sempre limpos ou em sedãs chineses e Pyeonhwa, de fabricação local. Uma minoria mais poderosa e abonada desfila por Pyongyang em atuais modelos da BMW e da Mercedes Benz, que contrastam com as Mercedes azul- claro dos anos 1980, destinadas a transporte de convidados, e com velhos bondes do transporte público. Pollos da cor branca, novos, são os carros oficiais mais usados por membros do partido em serviço.

Celulares e cachorros
O acesso à saúde e à educação continuam sendo gratuitos, assim como o consumo de energia elétrica e gás. Mas não há mais as cadernetas para controle de ração para cada família. Elas deram lugar a cédulas e a cartões de crédito, aceitos só na Coreia do Norte. A maioria dos moradores de Pyongyang recebe um salário estatal — cerca de 5 mil wons em média, o equivalente a US$ 50 no câmbio oficial. Eles pagam muito menos pelos mesmos produtos do que os estrangeiros, proibidos de frequentar estabelecimentos destinados só aos locais. Nos bairros mais novos, constata-se um novo fenômeno norte-coreano: a criação de animal doméstico.

Uma cidade sem selfie

A classe média pode, se tiver dinheiro suficiente, consumir produtos estrangeiros, tomar um café ou jantar e almoçar em restaurantes.
O celular chegou ao país em 2008, mas seu uso é limitado. Não há como fazer ligações internacionais, nem para estrangeiros morando no país. Os norte-coreanos tiram fotos com seus aparelhos e trocam arquivos MP3 entre si. Mas não há selfie. Portanto, não há paus de selfie. Os norte-coreanos também leem livros nacionais e o jornal do Partido dos Trabalhadores, Rodong Sinmun, nos celulares. Os moradores não param de destacar as virtudes de Pyongyang. Os guias e intérpretes escalados para acompanhar os estrangeiros nas raras excursões turísticas fazem de tudo para impressioná-los. Chamam a atenção até para itens comuns no exterior, como a captação de energia solar ou um elevador. “Moderno” é o adjetivo mais ouvido pelos visitantes.
“Edifício moderno”, “zoológico moderno”, “veículos modernos”.

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