Pelo menos 337 pessoas ficaram feridas ou contundidas em distúrbios deste domingo entre cidadãos e forças da ordem nos centros de votação do referendo sobre a independência da região da Catalunha, segundo as autoridades catalãs.
O Ministério do Interior da Espanha indicou que nove policiais e dois guardas civis também ficaram levemente feridos ao apreenderem urnas para impedir a votação, conforme ordenou a Justiça.
A pasta pediu tranquilidade nas ruas e colaboração e respeito nos centros de votação para que as forças de segurança possam cumprir a ordem judicial de impedir de forma pacífica a realização da consulta popular, suspensa pelo Tribunal Constitucional do país.
O porta-voz do governo catalão, Jordi Turull, atribuiu os feridos e contundidos à violência "policial do Estado" e os aconselhou a comparecer a centros de saúde para obter um atestado médico e apresentar denúncia à polícia da região, conhecida como Mossos d'Esquadra.
Turull responsabilizou o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, pelos incidentes, entre os quais também mencionou uma "agressão" à conselheira regional de Ensino, Clara Pontsatí.
O ministro de Interior espanhol, Juan Ignacio Zoido, explicou que os agentes têm encontrado situações "complicadas". Segundo Zoido, em apenas um caso foi necessária a utilização de métodos de defesa devido a um "encurralamento".
Mais de dez mil homens de reforço
Desde o início da manhã, a Polícia Nacional e a Guarda Civil - duas corporações que enviaram um reforço de mais de dez mil homens para a Catalunha - invadiram vários centros de votação em toda região para apreender urnas e cédulas, na tentativa de impedir a consulta proibida pela Justiça espanhola. Em vários lugares, as portas foram abertas a golpes.
Ainda assim, imensas filas se estendiam em vários postos.
O porta-voz do governo regional catalão, Jordi Turull, disse que 73% das seções eleitorais "estão funcionando".
"Meu voto e a satisfação de ter votado ninguém pode tirar de mim, aconteça o que acontecer. Até chorei, porque há anos que lutamos por isso e vi, diante de mim, uma senhora de 90 anos na cadeira de rodas votando", contou à AFP a eleitora Pilar López, uma funcionária administrativa de 54 anos, na pequena cidade de Lladó.
O próprio Puigdemont não conseguiu votar no ginásio onde estava previsto inicialmente, na localidade de Sant Julià de Ramis, já que a Guarda Civil entrou à força e assumiu o controle.
Lá, a Guarda Civil montou um cordão de isolamento para impedir o acesso a dezenas de pessoas, constatou a AFP.
Os agentes forçaram a porta e invadiram o lugar para retirar o material de votação, diante de um grupo de pessoas que, com os punhos ao alto, cantava "Els Segadors", o hino catalão.
Puigdemont seguiu para uma seção eleitoral próxima para depositar sua cédula. A alteração foi possível, porque, no último minuto, o governo catalão instaurou um cadastro único de eleitores. Com isso, os 5,3 milhões de catalães convocados às urnas poderão votar em qualquer um dos 2.135 postos anunciados.
A prefeita de Barcelona, a esquerdista Ada Colau, também criticou o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy. Este ainda não se pronunciou.
"Um presidente de governo covarde inundou nossa cidade de policiais. Barcelona, cidade de paz, não tem medo", tuitou Ada.
'Levaram as urnas à força'
Nos postos que conseguiram abrir, o processo de votação se via seriamente dificultado por problemas de informática. Pela manhã, a Guarda Civil indicou que havia desativado o cadastro universal de eleitores.
No colégio Ramón Llull de Barcelona, a Polícia Nacional primeiro forçou o portão e, depois, a porta de vidro do prédio, em meio a dezenas de pessoas que tentaram barrar sua entrada.
Finalmente, os agentes levaram as urnas, enquanto a multidão gritava "Votaremos!" e "As ruas serão para sempre nossas!", observou um jornalista da AFP no local.
"Levaram as urnas à força, porque os presidentes das mesas agarravam as urnas com as duas mãos. Eles as arrancavam das mãos, literalmente, enquanto nós continuávamos cantando 'Els Segadors' e gritando 'Viva a democracia'", relatou o responsável por essa seção, Marc Carrasco.
Quatro horas antes do início da votação, milhares de cidadãos em Gerona, Barcelona, Lérida, ou Tarragona, haviam-se reunido pacificamente na frente dos centros de votação, para tentar protegê-los do fechamento e do desalojamento ordenado por uma juíza.
"Na Catalunha, estamos no ponto em que acreditamos que é essencial decidir se continuamos com o Estado espanhol", disse à AFP Pau Valls, um estudante universitário de 18 anos que acampou durante a noite no colégio Jaume Balmes, no centro de Barcelona.