Karl Kreile e Bodo Mende se tornaram, neste domingo (1), o primeiro casal gay a se casar em Berlim, comemorando o fato de as uniões de homossexuais deixarem de ser "de segunda classe" na Alemanha. As recentes permissões do casamento homossexual e da adoção por casais do mesmo gênero aconteceram sem grandes sobressaltos no país, já que a maior parte da sociedade e da classe política concordava com ambas medidas.
"Isso não muda muito a situação para nós, porque não vamos adotar uma criança, mas é altamente simbólico: agora somos um casal como os demais", explicou com um sorriso no rosto e uma taça de champanhe na mão Kreile, de 59 anos, que se casou no bairro de Schöneberg. "É um belo passo à frente, mas o Estado deve continuar a luta contra a homofobia e a transfobia também, a nível internacional, trabalhar pelo fim da criminalização da homossexualidade", declarou seu marido Mende, após provar uma fatia de bolo de arco-íris - combinando com a bandeira LGBT.
"Estou encantado de a nossa cidade receber uma das primeiras uniões homossexuais para o que, além dos debates abstratos, é uma medida igualitária: o que está em jogo é a felicidade de pessoas muito reais, com seus desejos, suas esperanças, seus sentimentos e suas necessidades", comemorou nesta sexta (29) o prefeito de Berlim, o social-democrata Michael Müller. "Estamos felizes de acabar a discriminação do Estado contra gays e lésbicas neste domingo", afirmou Jörg Steinert, responsável pela Associação de Gays e Lésbicas em Berlim.
Contudo, ainda há alguns erros para serem solucionados. Devido a um problema de atualização do programa usado em Berlim, nos formulários administrativos, uma pessoa aparece como "homem", e outra como "mulher".
- Merkel ambígua -
Mais de 75% dos alemães hoje são favoráveis ao casamento homossexual, segundo pesquisas. Contudo, a chanceler Angela Merkel adiou, durante muito tempo, este debate, para não criar conflitos com o setor mais conservador de seu grupo político, o Partido Democrata Cristão bávaro CSU, defensor ferrenho dos valores da família tradicional.
A aproximação das eleições legislativas de setembro antecipou os fatos e, em junho, Merkel anunciou, para surpresa de todos, que queria reabrir o debate. Dias depois, os deputados votaram a favor da união homossexual, estimulados por grupos parlamentares de esquerda. Apesar de Merkel ter votado contra, ela não barrou o debate sobre o texto do Parlamento e deu liberdade de voto a seus deputados, afastando um dos possíveis ataques que os social-democratas poderiam fazer a ela durante a campanha. "Foi um cálculo político. Obrigado, mas está 25 anos atrasado", lamenta Mende.