"O prêmio este ano recompensa um refrescante método de produzir imagens de moléculas vivas congeladas em movimento", anunciou Göran Hansson, secretário-geral da Academia Real de Ciências.
Graças às suas descobertas, "os cientistas podem agora (...) produzir estruturas tridimensionais de biomoléculas", explicou o júri.
As chances de obter o prêmio eram "minúsculas, porque houveram tantas outras descobertas", reagiu Joachim Franck, de 77 anos, contactado por telefone pela Academia Real. "De uam certa maneira, fiquei sem voz e repeti a mim mesmo o quanto fantástica era a novidade".
A microscopia crio-eletrônica permite estudar amostras biológicas (vírus, proteínas, enzimas) sem alterar suas propriedades, pois evita a necessidade de usar corantes, assim como os feixes de elétrons desprendidos pelos raios X.
A microscopia eletrônica convencional desidrata as amostras (muitas vezes constituídas por uma grande quantidade de água), de modo que as altera. Também são modificadas pelo uso de corantes, ou de sais, para melhorar a resolução da imagem.
Até os anos 1980, quando Jacques Dubochet - hoje com 75 anos - e sua equipe inventaram a microscopia crio-eletrônica, os cientistas congelavam a amostra para conservá-la em seu estado original.
Mais precisamente, a aguá da molécula é "vitrificada" o mais rapidamente possível antes de sua cristalização.
A tecnologia moderna permite reconstruir a amostra biológica - por exemplo de um vírus ou uma bactéria - em três dimensões.
"Uma imagem é a chave para a compreensão", explica a Academia.
Vírus da Zika
Em 1990, Henderson, atualmente com 72 anos, foi o primeiro a produzir uma imagem tridimensional (3D) em resolução atômica de uma proteína. Joachim Frank, de 77, aperfeiçoou a técnica e a tornou mais simples.
Em março de 2016, um estudo publicado na revista Science revelou a estrutura do Zika vírus graças à crio-EM.
"Quando os cientistas começaram a suspeitar que o vírus da Zika era responsável pelas graves anomalias nos bebês no Brasil (em 2015), recorreram à crio-EM para visualizar o vírus", recordou o Comitê Nobel.
As imagens 3D do vírus foram geradas e os pesquisadores puderam iniciar pesquisas direcionadas para tratamento e vacinas.
O método foi igualmente utilizado para estudar as enzimas envolvidas em doenças como o Alzheimer.
Em 2016, o Nobel de Química foi atribuído ao francês Jean-Pierre Sauvage, ao britânico Fraser Stoddart e ao holandês Bernard Feringa, criadores das minúsculas "máquinas moleculares" que antecipam os nano-robôs do futuro.