Os jihadistas da antiga facção da Al-Qaeda na Síria, no poder no reduto rebelde de Idleb, estão cada vez mais isolados por divisões e deserções, à medida que se aproxima a nova ofensiva anunciada pela Turquia.
O grupo Fateh al-Sham, anteriormente conhecido como Frente al-Nusra, controla a maior parte da província de Idleb, a única no noroeste da Síria que foge ao controle do presidente sírio, Bashar al-Asad.
Esta organização é o principal componente da coalizão Tahrir al-Sham, considerada "terrorista" pelos Estados Unidos e vários países ocidentais e que agrupa desde 2017 grupos armados islâmicos e jihadistas.
"Antes, as pessoas adoravam a Frente al-Nusra, mas agora esperam ansiosas pelo Exército turco", assegura um ativista de Idleb.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou no sábado (7) que os rebeldes sírios apoiados por Ancara vão conduzir uma nova ofensiva em Idleb.
Com um objetivo: expulsar Tahrir al-Sham desta província que faz fronteira com a Turquia, segundo confirmou um comandante rebelde sírio que participa da operação.
Neste domingo, houveram disparos entre as forças turcas e combatentes da Tahrir al-Sham na fronteira, mas o incidente não parece marcar o início da operação anunciada por Erdogan.
A província de Idleb é uma das quatro zonas de distensão acordadas em maio com a intenção de estabelecer tréguas duráveis em várias regiões do país.
Estas zonas de cessar-fogo, negociadas pela Rússia e pelo Irã (aliados do regime) e Turquia (que apoia os rebeldes) excluem os grupos jihadistas
- 'Isolar o grupo' -
A ofensiva turca acontece num momento em que a Tahrir al-Sham, que conta com cerca de 10 mil combatentes, está em uma posição delicada.
A Rússia anunciou na quarta-feira que feriu seriamente seu líder Mohammad al-Jolani. O grupo nega a informação.
Nos últimos meses, as deserções nesta coalizão islâmica e jihadista se multiplicaram.
"A união de grupos rebeldes sob o nome de Tahrir al-Sham não é mais do que uma fachada. A direção e a tomada de decisões permaneceram nas mãos da Al-Nusra", aponta Ahmad Abazeid, do Centro Toran, com sede na Turquia.
De acordo com esse especialista, há tempos fala-se de uma intervenção da Turquia, que queria encorajar deserções e "isolar o grupo".
Tudo começou em julho, quando Tahrir al-Sham atacou posições da organização salafista Ahrar al-Sham, um dos seus aliados mais poderosos. Isso levou várias facções islâmicas a abandonar a coalizão. Uma delas foi o grupo Nurredin al-Zinki, que tem milhares de combatentes.
No final de setembro, foi a vez da Jaish al-Ahrar, considerada a força "de elite".
É difícil não relacionar essas deserções com "a aproximação de uma intervenção turca em Idleb", diz Sam Heller, do think tank Century Foundation.
"Conectar-se de algum modo a grupos como Tahrir al-Sham é uma escolha cada vez mais arriscada", confirma Charles Lister, um especialista sírio no Middle East Institute.
A guerra na Síria entrou "numa nova fase", na qual os rebeldes consideram os jihadistas como um aliado tóxico, explica.
Graças ao apoio militar russo, as forças do regime passaram à ofensiva e os rebeldes não tiveram escolha senão aceitar negociações e estabelecer zonas de distensão.
Há várias semanas, Idleb é alvo de ataques aéreos sírios e russos em que dezenas de civis foram mortos.
"Tahrir al-Sham e seu comando disseram claramente que lutarão até a morte contra qualquer intervenção externa", lembra Lister.
Mas as dificuldades crescentes provocam "divisões internas" entre os jihadistas, diz Abazeid.
Existem divisões entre "a corrente que representa a Al-Qaeda e outra que quer estabelecer um diálogo com a Turquia e outros países e deixar de ser classificada como uma organização terrorista", de acordo com o especialista.
Os adeptos da Al-Qaeda querem "enfrentar a Turquia e eliminar os grupos rebeldes ainda presentes" na província "porque consideram que a moderação não produz resultados".
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