Os países em desenvolvimento instaram os Estados desenvolvidos a cumprir seus compromissos para reduzir o aquecimento global durante a primeira semana da conferência de Bonn sobre o clima (COP23).
As negociações na COP23 da ONU continuarão até quarta-feira entre os delegados dos 197 Estados que ratificaram o Acordo de Paris, e depois serão assumidas pelos responsáveis políticos - ministros, chefes de Estado e um diplomata que representará os Estados Unidos.
Dois anos depois da adoção do Acordo de Paris, cujo objetivo é limitar o aumento das temperaturas mundiais abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, os países estão começando a definir as regras de sua aplicação. Um processo técnico que deveria estar pronto no final de 2018, na COP24.
Mas antes de que isso ocorra, após um ano de cataclismos meteorológicos, os países em desenvolvimento chegaram a Bonn com uma mensagem para os Estados ricos, que acusam de não cumprirem suas promessas.
"Muitas ações climáticas propostas pelos países em desenvolvimento em Paris dependiam da disponibilização de recursos. Deve-se abordar esta questão com franqueza!" - declarou Mohamed Adow, da ONG Christian Aid.
Não se trata "de investimentos, mas da dívida climática" do Norte em relação ao Sul, afirmou Amhad Abdulla, representante das ilhas pequenas.
Abdulla se referia ao princípio que rege as negociações sobre o clima há mais de duas décadas: os países ricos, maiores emissores de gases de efeito estufa, têm uma maior responsabilidade que os demais, e por isso devem ajudar os mais pobres a crescerem de forma limpa e a enfrentarem o impacto do aquecimento global.
Um grupo de negociação que inclui grandes países emergentes, entre eles China e Índia - primeiro e quarto emissores de gases de efeito estufa do mundo, respectivamente -, convocou nesta quinta-feira uma coletiva de imprensa para lembrar que os países ricos se comprometeram a reforçar seus planos climáticos antes de 2020, ano de entrada em vigor do Acordo de Paris.
- 'Equidade' -
Em 2012, "os países desenvolvidos aceitaram revisar seus objetivos de redução de emissões. Não vemos melhorias, não faltam só ações mas também apoio ", disse o delegado chinês Chen Zhihua.
"Tudo que pedimos é que esta emergência se concretize em ações, e que isso ocorra antes de 2020", disse Walter Schuldt, presidente equatoriano do grupo dos G77 (134 países em desenvolvimento).
"A tecnologia existe, o capital existe, a urgência existe. O que falta é a vontade política dos países desenvolvidos muito poluentes", opinou o negociador da Nicarágua, Paul Oquist.
Para Teresa Ribera, diretora do Instituto de Relações Internacionais (IDDRI), essa reivindicação também tem um carácter tático. "É uma ofensiva para evitar sofrer toda a pressão , enquanto a pressão não parece subir contra a Europa nem os Estados Unidos", explica.
A decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris supõe um problema de "equidade e de justiça", acrescenta Ribera. Os países em desenvolvimento "sofrem e portanto é normal" que apontem "um atraso importante das economias industriais".
A etapa política da COP começará na quarta-feira, com a presença da chanceler alemã, Angela Merkel, do presidente francês, Emmanuel Macron, e dos chefes de Estado africanos.
.