O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, foi confinado em sua casa, conforme militares reforçavam seu controle sobre o governo e instituições cívicas nesta quarta-feira. As Forças Armadas dizem que atuam contra o establishment político "degenerado" do país, embora neguem que tenham a intenção de depor Mugabe, no poder desde 1987.
No meio do dia (hora local), soldados haviam assumido o controle do aeroporto da capital, dos prédios do Parlamento, da televisão estatal e da residência presidencial. Importantes aliados de Mugabe, entre eles o ministro das Finanças, haviam sido detidos. Veículos militares bloquearam interseções estratégicas nos distritos central e comercial, enquanto a emissora estatal de rádio tocava apenas canções patrióticas.
Mugabe disse em telefonema ao presidente sul-africano, Jacob Zuma, que estava confinado em sua casa, mas bem, de acordo com a presidência da África do Sul.
"Nós queremos deixar muito claro que essa não é uma tomada militar do governo", afirmou o general Sibusiso Moyo em seu estúdio, em roupas de combate. "O que as Forças de Defesa do Zimbábue fazem é pacificar uma situação política, social e econômica degenerada em nosso país."
Analistas políticos dizem que, apesar das declarações dos militares, o tempo de Mugabe no poder está perto do fim. "Pelos rumores, é o fim para Mugabe", afirmou Derek Matyszak, analista sediado em Harare do Institute for Securities Studies. "Eu não sei como ele pode recuar disso."
O Exército, a polícia e o governo não responderam a vários pedidos de declarações. As ações dos militares ocorrem horas após o chefe das Forças Armadas ser acusado de traição pelo partido do presidente, que dias antes demitiu seu poderoso vice-presidente. A medida contra o vice foi visto como um passo para Mugabe, de 93 anos, colocar a mulher dele, Grace, de 52 anos, como um dos dois vices e apontá-la como sucessora.
A perspectiva de uma possível dinastia Mugabe havia gerado uma ameaça do comandante das Forças Armadas, o general Constantino Chiwenga, que disse na segunda-feira que os militares poderiam intervir se a perseguição política não terminasse.
Potências regionais divulgaram comunicados nesta quarta-feira, com pedidos de calma. Na África do Sul, onde vivem entre 1 e 3 milhões de zimbabuanos, pediu calma e uma solução pacífica, que não viole a Constituição do país. Já embaixadas de nações ocidentais emitiram alertas para quem pretende viajar ao país.
Um dos pontos importantes para a crise é o caso do ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, apelidado "O Crocodilo", afastado na semana passada, o que chocou muitos no país, que veem o comportamento do presidente como errático e também criticam as mostras de riqueza da primeira-dama, Grace Mubage, e de seus filhos. Não se sabe o paradeiro de Mnangagwa.