Jornal Estado de Minas

Partido de Macron sofre primeiros rachas na França

Seis meses depois de assumir a Presidência da França, o presidente Emmanuel Macron enfrenta os primeiros rachas dentro de seu partido, que escolherá no sábado (18) seu novo líder.

O jovem chefe de Estado de 39 anos conseguiu o que poucos acreditavam ser possível ao criar apenas um movimento centrista pró-Europa chamado "Em Marcha!", com o qual venceu as eleições presidenciais e legislativas em um ano.

Mas desde então, várias figuras do partido, que agora mudou de nome para "A República em Marcha" (LREM, em francês), admitem que depois de captar mais de 350.000 membros nos primeiros meses, o movimento se encontra estagnado.

Pior ainda, nesta semana 100 membros do partido publicaram uma carta aberta na qual anunciam que estão abandonando o movimento por uma suposta falta de democracia interna e práticas do "velho mundo" da política.

Chamados de os "100 democratas", esses insurgentes denunciam o que chamam de "a coroação de Christophe Castaner", um político próximo a Macron e único candidato em disputa para retomar as rédeas do partido no congresso de sábado.

Castaner, atual porta-voz do governo, deve ser escolhido à mão levantada e não por voto secreto. "Um modo de organização digno do Antigo Regime", denunciam os autores da carta aberta, um grande insulto para um movimento que nasceu com o desejo de romper com os códigos da velha política.

Estas primeiras figuras aparecem em um momento delicado para Macron, que precisa de uma base sólida para enfrentar uma queda de popularidade nas pesquisas e a ira dos sindicatos contra suas reformas consideradas por alguns como demasiadamente liberais.

O presidente francês também requer um partido forte para ganhar terreno nas próximas eleições locais e regionais, etapas indispensáveis para "transformar" a França, como prometeu.

- Recuperar o ímpeto perdido -

O LREM foi extremamente eficaz durante a campanha eleitoral. Milhares de voluntários se mobilizaram em todo o país, batendo de porta em porta, distribuindo folhetos e animando comícios.

Muitos se sentiram atraídos pela promessa de Macron de fazer política de uma maneira "diferente", convidando os cidadãos a compartilhar suas propostas para elaborar um programa reformista.

Mas uma vez que o ex-banqueiro de investimentos assumiu o cargo em maio, os membros mais próximos de sua equipe foram promovidos a cargos de assessores e ministros, deixando o partido sem seus principais promotores.

Um organizador da campanha do LREM em Paris, que pediu anonimato para não comprometer sua posição, disse à AFP que falta muito para o partido se colocar em marcha. "Se precisamos de algo, não oferecem nada. Inclusive a central telefônica funciona mal", lamenta esta fonte.

Jean-Baptiste Moreau, um deputado do LREM e ex-agricultor, admite que "claramente desde as eleições a situação está complicada".

"A prioridade agora é ter uma linha política clara", disse, em entrevista à AFP.

Ele e outros esperam que Castaner, um ex-deputado socialista que se uniu a Macron durante a campanha presidencial, possa ajudar a recuperar o ímpeto perdido no terreno.

Os insurgentes do partido afirmam que os comitês locais "se esvaziaram" desde as eleições, algo que preocupa outros responsáveis do movimento.

A eleição de Castaner neste fim de semana dará um novo enfoque ao partido, mas o turvo processo que levou a sua nomeação deixou alguns ativistas preocupados pela falta de democracia interna.

"Se as coisas estão muito centralizadas, então pode haver a impressão de que estamos aqui para aplicar as decisões tomadas mais acima e as pessoas vão se decepcionar", advertiu Patrick Bernard, referente do LREM na região rural de Creuse.

Mas ele espera que novas iniciativas como uma plataforma de capacitação para voluntários e novos projetos comunitários para os membros ajudarão a recuperar o entusiasmo perdido. "Precisamos criar uma nova identidade", afirmou.

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