O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, detido em 2015 por suspeita de conspiração contra o governo Nicolás Maduro, pediu "auxílio" à Colômbia, após burlar a detenção domiciliar e cruzar a fronteira nesta sexta-feira (17).
De 62 anos e um dos opositores detidos mais emblemáticos junto com Leopoldo López, também em prisão domiciliar, Ledezma descreveu sua mirabolante fuga.
"Foi uma travessia de filme passar por mais de 29 postos entre a Guarda Nacional e a Polícia do governo", contou à imprensa colombiana, na cidade fronteiriça de Cúcuta, sem dar detalhes.
De lá, pediu ajuda à Colômbia, para onde já fugiram vários juízes destituídos e a ex-procuradora-geral Luisa Ortega, que chegou a Bogotá em agosto, alegando perseguição política.
"Minha voz se une ao coro de vozes de venezuelanos que pediram auxílio de Colômbia", afirmou ele.
Em uma nota, o Escritório de Migração disse que o político ingressou na manhã de hoje "via terrestre" pela Ponte Internacional Simón Bolívar, da localidade de Villa del Rosario, próxima a Cúcuta.
Ledezma "fez o correspondente trâmite migratório perante as autoridades colombianas, dentro da normatividade migratória", afirmou.
No momento, o governo de Juan Manuel Santos, um dos mais críticos do que classifica como "ditadura" de Maduro, não se pronunciou sobre o futuro do prefeito de Caracas. A ex-procuradora Luisa Ortega já conta com asilo e proteção de Bogotá.
Vestido com camisa clara e jaqueta escura, Ledezma garantiu que burlou a detenção sem consultar "esposa e filhas" e não deu pistas claras sobre seus próximos passos.
"Minha bússola tem vários destinos. Vou fazer uma peregrinação pelo mundo inteiro", afirmou.
Segundo a imprensa colombiana, de Cúcuta ele pegaria um avião para um destino não especificado.
Em Caracas, várias patrulhas do serviço de Inteligência na frente da casa de Ledezma e arredores, no leste da cidade.
- 'Governo de transição' -
Acusado de fazer parte de uma suposta conspiração contra Maduro, o prefeito foi detido em 19 de fevereiro de 2015.
Dois meses depois, chegou a ser colocado em prisão domiciliar por questões de saúde. Em agosto, porém, foi levado para prisão militar Ramo Verde, nos arredores de Caracas, depois que o Tribunal Supremo de Justiça revogou essa condição, acusando-o de planejar fugir.
Ledezma voltou para casa alguns dias mais tarde.
Tanto ele quanto López questionam Maduro sem trégua e rejeitam a Assembleia Constituinte de plenos poderes em vigor na Venezuela.
Em sua fuga, voltou a criticar o presidente e pediu sua saída do poder.
"É hora de sair de cena e permitir um governo de transição. Maduro não pode continuar torturando o povo da Venezuela. Maduro está matando o povo da Venezuela de fome", insistiu.
Caracas ainda não se pronunciou sobre a fuga do líder opositor.
A também integrante da oposição María Corina Machado alegou que Ledezma corria risco de vida na Venezuela.
"Eu tinha certeza (de) que Antonio Ledezma não permitiria que fizessem dele refém da tirania. Sei que sua vida corria perigo pela posição que assumiu com firmeza e coerência diante da pretensão de reeditar o falso diálogo", escreveu ela nas redes sociais, referindo-se aos contatos entre Maduro e um setor da oposição favoráveis à retomada do diálogo.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, saudou a fuga do prefeito.
"Minha saudação a Antonio Ledezma, referência moral da #Venezuela, agora livre para liderar a luta do exílio para a instauração do sistema democrático em seu país", tuitou Almagro.