Yazd, Irã - Depois de cuidadosamente lavados, em túnicas brancas, os corpos eram carregados ao cume da montanha, onde a Torre do Silêncio (Dakhma) se eleva sobre a linha do horizonte da cidade de Yazd, Região Central do Irã. Protegida por muros altos, sobre a sagrada plataforma concêntrica feita de pedra, os cadáveres eram entregues em círculos formados – nesta ordem, por homens na borda externa, mulheres ao meio e crianças na menor roda – em torno do fosso central, um ossuário. Ao mesmo tempo em que eram abençoados pela exposição à luz do Sol, eram também devorados pelos abutres, naquele que era considerado o último ato de caridade a esses animais, que auxiliam a transição entre os mundos material e espiritual, com capacidade para digerir a matéria decomposta.
Dokhmenashini. Esse é o nome do ritual zoroastriano de “funerais abertos”, em que ocorre a libertação da alma (Ravan) dos apegos terrestres. Acredita-se que, por três dias, estas, sob a proteção do reverenciado anjo Sarosh Yazad, vagam nas proximidades onde se deu a morte, quando recontam os seus bons e maus atos e a sua experiência na Terra. Na madrugada do quarto dia, iniciam as suas jornadas pela ponte Chinavat, onde se encontram com as suas consciências (Daena). Aqueles que seguiram a verdade ganham o paraíso; adeptos da mentira, o inferno.
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Ainda paira no Ocidente incompreensão sobre revolução iranianaPersépolis resiste à brutalidade das violações de conquistadoresNão há precisão de quando a prática se iniciou. No século 5 a.C.
Aos 93 anos, Shahryar, único “nesasalor” – que significa cuidador dos mortos – ainda vivo no Irã, lembra-se perfeitamente quando, há 50 anos, transportou, os dois últimos corpos antes da proibição do rito.
O funeral aberto praticado por zoroastrianos foi fundado no profundo respeito ao meio ambiente. “Todas as criações de Ahura Mazda (Deus) são sagradas e necessárias, não podem ser desperdiçadas e devem ser preservadas”, explica Shahryar, hoje, guardião do sítio arqueológico de Yazd. Casado, pai de cinco filhos, Shahryar conta que apenas os cuidadores de mortos tinham acesso à Dakhma. A função era muito respeitada pela comunidade zoroastriana, responsável inclusive por manter a família do nesasalor.
A proibição das Dakhmas no Irã ocorreu por um conjunto de razões. A começar pelo fato de terem, em princípio, sido projetadas afastadas do perímetro das cidades, que se expandiram com o tempo. Além disso, como o Islã impõe restrições à dissecação “desnecessária”, uma forma de mutilação, diante da demanda por corpos das escolas de medicina, passaram a ser crescentes os registros de violação das Dakhmas.
Berço do zoroastrismo Com a invasão árabe e ascensão do islamismo no século 7, o que mudaria a face do Irã, os desertos que cercam Yazd tornaram-se uma proteção natural para aqueles que não queriam se converter, uma vez que o exército árabe era baseado principalmente em cavalaria. Por toda a Província de Yazd, de Fars e de Kerman há grande concentração de templos do fogo em ruínas, sítios que também estão espalhados por outras regiões da antiga Pérsia.
Para escapar às conversões que se seguiram ao domínio árabe, muitos dos zoroastrianos também se refugiaram na Índia, no Afeganistão e no Azerbadjão. Nos séculos 19 e 20, muitos migraram para os Estados Unidos, Europa e Austrália, preservando a sua religião, mas compelidos a adaptar as suas práticas e rituais, particularmente aqueles relacionados à morte e à disposição do corpo.
São pouco precisas as estimativas da diáspora e do tamanho da população zoroastriana pelo mundo, que declina em tamanho. As mais otimistas sugerem que sejam, pelo mundo, cerca de 200 mil. No Irã, país em que, dos 82 milhões de habitantes, entre 90% e 95% são xiitas, algo entre 5% e 10% são sunitas, dados do censo sugerem apenas 25 mil zoroastrianos, que, junto às minorias cristãs e de judeus, somam menos de 1% da população. Atualmente, estas são respeitadas e vivem sem restrição de direitos.
Zoroastrismo
Zarathustra é considerado o mensageiro da verdade e da sabedoria. Para os muçulmanos, ele é o primeiro profeta no mundo que professou o monoteísmo, deus único a quem chamava de Ahura Mazda, o Sábio Lorde. Por isso, a religião é também conhecida como masdeísmo. Segundo informações do Museu do Templo do Fogo Vitorioso, em Yazd, Zarathustra, nasceu na antiga terra da Pérsia por volta de 1768 a.C. – e não no século 6 a.C. como comumente se é reportado.
O Templo do Fogo
Para zoroastrianos, o fogo é um elemento sagrado, símbolo da purificação, da verdade e da luz do deus Ahura Mazda. Na Antiguidade, como era muito difícil acendê-lo e mantê-lo, as comunidades zoroastrianas desenvolveram casas de fogo comunitárias, em que havia uma chama permanentemente acesa, mantida por guardadores do fogo, profissão mantida pela comunidade.
O Faravahar
Símbolo mais popular do zoroastrismo, o Faravahar diz respeito ao propósito da vida – viver à imagem e semelhança do deus Ahura Mazda, com o contínuo esforço para a prática do bem. Representa Ashur, o deus assírio da guerra, ou seja guerra eterna entre o bem e o mal, sob o manto de plumas e da proteção de Ahura Mazda.
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