Jornal Estado de Minas

Sufragistas são reabilitadas após 100 anos de militância pioneira

Tratadas em sua época como mulheres "histéricas" ou "selvagens", caricaturizadas e detidas, as sufragistas estão sendo finalmente reabilitadas, em reconhecimento à luta que permitiu às britânicas, há 100 anos, o direito de votar.

Nesta terça-feira (6), retratos em tamanho natural dessas militantes, anônimas em muitos casos, serão exibidos na Trafalgar Square, no centro de Londres, palco habitual de suas manifestações no início do século XX.

Na primavera (boreal), no Palácio de Westminster, será inaugurada a estátua de Millicent Fawcett, heroína da causa feminista.

Ela dividirá espaço com outras grandes figuras da História do país, como Winston Churchill e Gandhi.

Diferentemente das sufragistas, que defendiam a ação direta, quebrando janelas e ateando fogo a edifícios, Millicent Fawcett rejeitava a violência.

Helen Pankhurst, a tataraneta de Emmeline Pankhurst, a mais famosa das sufragistas, apoia o tributo a Fawcett.

"A razão pela qual apoio a estátua é que foram esquecidas, caíram no esquecimento das história. E acho devem ser parte dela", explicou, em um encontro com jornalistas organizado pela Associação da Imprensa Estrangeira (FPA) em Londres.

Se Emmeline Pankhurst e suas três filhas - Christabel, Adela e Sylvia -, continuaram sendo a face mais visível das sufragistas, milhares de mulheres de todas as idades e origens sociais também fizeram campanha com determinação para obter o direito ao voto.

Quase 1.300 foram detidas, e algumas, alimentadas à força depois de iniciarem greves de fome.

- 'Questionando normas' -

"Por si só, Emmeline nunca teria conseguido o que conseguiu", disse Helen Pankhurst, também ativista e autora de um livro sobre a história e sobre o legado do movimento feminista.

Emmeline é um "símbolo": "era bonita, carismática e sua pequena constituição física contrastava com a força de seu caráter, mas, sem as outras - e especialmente suas filhas -, nada teria acontecido", relatou.

Entre as ativistas esquecidas que hoje serão relembradas estão Alice Hawkins, operária de uma fábrica de sapatos e líder do movimento feminista em Leicester, no centro da Inglaterra.

Sua estátua foi inaugurada no fim de semana no mesmo lugar onde esta mãe de seis filhos falava para a multidão.

Um merecido reconhecimento - considerou sua tatara-tataraneta, Kate Barrt, em entrevista à Sky News: "as sufragistas não eram feministas de classe alta e com muito tempo livre, mas personalidades inconformistas e intrépidas (...), de todas as origens econômicas e sociais".

Em Londres, a prestigiosa National Gallery exibe "Vênus ao Espelho", a famosa pintura de Diego Velázquez que foi dilacerada com uma facão de açougueiro por Anne Hunt, em julho de 1914, depois de uma nova detenção de Emmeline Pankhurst.

Hunt condenada a uma pena de seis meses de prisão. Depois de sua ação, começou-se a pedir às mulheres para deixar as bolsas no guarda-volumes do museu.

O Museu de Londres também recorda essas mulheres, exibindo os objetos com os quais costumam se prender, ou quebrar vidraças, mas também postais, bonecas e outras coisas criadas e vendidas para coletar dinheiro, mostrando seu talento para arrecadar fundos.

Segundo Helen Pankhurst, há muitos paralelismos entre as sufragistas de ontem e as feministas de hoje: "continuam questionando as normas, continuam dizendo 'chega'".

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