A prudência define os sul-coreanos após a histórica visita realizada pela irmã do líder norte-coreano, Kim Jong-Un, durante os Jogos Olímpicos. Seu sorriso promete uma aproximação real, ou foi uma mera operação de sedução orquestrada pela ditadura da Coreia do Norte?
Kim Yo Jong, que retornou no domingo à Coreia do Norte, se tornou a primeira representante da dinastia de Pyongyang a pisar no solo de seu grande rival desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953. Este marco aconteceu na sexta-feira, horas antes da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang.
Por seu título, a irmã do dirigente norte-coreano chamou a atenção dos sul-coreanos e da imprensa estrangeira desde o momento em que apareceu, rodeada de seguranças, no aeroporto internacional de Incheon, na Coreia do Sul.
Apertou a mão do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, apoiou com ele a equipe feminina unificada de hóquei e transmitiu um convite de seu irmão para participar de uma cúpula em Pyongyang.
Cada detalhe de sua visita foi analisado e interpretado com atenção, desde sua roupa, expressões de rosto, até sua escrita, com uma leitura minuciosa das palavras que deixou no livro de visitas da Casa Azul, da Presidência sul-coreana.
Kim Jong-Un pode se sentir mais que satisfeito com a estreia diplomática de sua irmã, considerou Yang Moo-Jin, professor universitário de Estudos Norte-Coreanos de Seul.
- 'Não acredito' -
"Kim sorriu muito, mas, ao mesmo tempo, poucas vezes foi vista assentindo durante a visita, inclusive diante de nosso presidente", disse o acadêmico. "Kim Jong-Un pode estar contente" com o proceder da irmã.
Enquanto isso, os sul-coreanos estavam divididos sobre as possibilidades reais de aproximação entre as duas Coreias.
"Não acredito", disse à AFP Kim Byoung-gwan, um homem de negócios, que justificou seu ceticismo lembrando que a Coreia do Norte até "pouco tempo lançou mísseis e fez um teste nuclear, antes desta iniciativa de paz".
Outros lamentaram a atenção da mídia despertada por Kim Yo Jong.
"A mídia da Coreia do Sul e estrangeira está gagá", criticou um internauta. "Logo vai estar como a mídia da Coreia do Norte, idolatrando-a".
Partidário declarado do diálogo, Moon foi alvo de críticas dos conservadores sul-coreanos que consideram que ele foi muito longe em seu objetivo de agradar o Norte.
No entanto, um dos aspectos mais célebres da visita da delegação norte-coreana foi o momento em que Kim Yo Jong e o ocupante do cargo de chefe de Estado na Coreia do Norte, Kim Yong Nam, se levantaram quando a bandeira sul-coreana foi içada no Estádio Olímpico de Pyeongchang.
- A arte de dissimular -
Em 2014, Kim Yo Jong foi nomeada "diretora adjunta de departamento" no comitê central do Partido dos Trabalhadores, antes de se juntar em outubro ao gabinete político do partido no poder.
Esta figura, que demonstrou confiança durante a visita, é uma das confidentes mais próximas do misterioso líder norte-coreano.
"Ela é uma das raras pessoas no poder que fala livremente de tudo com o líder Kim", sustenta Yang Moo-Jin, professor na Universidade de Estudos Norte-Coreanos em Seul.
Acrescentou que, "provavelmente, ela tem mais influência que os outros responsáveis norte-coreanos no que diz respeito a tomadas de decisão e coordenação política com o líder", acrescentou, após detalhar que a irmã de Kim Jong-Un fala fluentemente francês e inglês.
Mas, para além de sua demonstração de amabilidade durante os Jogos Olímpicos, muitos sul-coreanos se mantêm céticos.
"A família Kim sempre foi excelente na arte de dissimular", afirmou um internauta, e outro advertiu: "Pode saber como se comportar, mas isso não é suficiente para esquecermos as atrocidades cometidas por ela e sua família".