O presidente palestino, Mahmud Abbas, convocou na ONU nesta terça-feira (20) uma conferência internacional para o meio deste ano, que teria como objetivo pavimentar o caminho para o reconhecimento do Estado palestino, como etapa de um processo de paz mais amplo no Oriente Médio.
"Para resolver a questão palestina, é essencial estabelecer um mecanismo internacional multilateral para uma conferência internacional", declarou Abbas, em pronunciamento no Conselho de Segurança.
Seu discurso vem em um momento de grande preocupação da comunidade internacional com a decisão do presidente americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.
Segundo Abbas, a conferência proposta por ele deve levar à atualização do status da Palestina nas Nações Unidas, como um Estado-membro, e à criação de um novo mecanismo internacional para se chegar um acordo final de paz.
Ele deixou o Conselho logo após sua fala. O embaixador israelense na Casa, Danny Danon, reclamou que, "mais uma vez", Abbas "fugiu" do diálogo.
No final de janeiro, a embaixadora americana, Nikki Haley, acusou Abbas de não ter coragem.
"Não vamos correr atrás de um governo palestino que não tem o que precisa para se chegar à paz", alfinetou, acrescentando que, "para obtermos resultados históricos, precisamos de líderes corajosos".
Hoje, Nikki estava acompanhada do enviado dos EUA para a Paz no Oriente Médio, Jason Greenblatt, assim como de Jared Kushner, genro e assessor do presidente Trump para mesma região.
O presidente palestino já discursou no Conselho de Segurança em 2008 e em 2009.
- Ira americana -
Desde 2012, a Palestina é "um Estado observador não membro" da ONU, o que lhe permite integrar agências da organização e se somar ao Tribunal Penal Internacional. Não é integrante pleno das Nações Unidas, apesar de ter sido reconhecida por mais de 130 países.
Um status de membro passa pela recomendação do Conselho à Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), e sem veto dos EUA, grande aliado de Israel.
Abbas se nega a manter contato direto com o governo de Donald Trump desde o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel no fim de 2017, uma decisão que desacreditou os Estados Unidos - aos olhos dos palestinos - como mediador nesse processo.
Em dezembro, os palestinos se beneficiaram dos votos de quase todos os membros do Conselho (14 contra um) para condenar esta decisão, com os Estados Unidos vetando um rascunho de resolução nesse sentido. A condenação foi aprovada pela AGNU, por maioria (128-9 votos e 35 abstenções), irritando Washington.
Israel rejeita qualquer âmbito multilateral para o processo de paz, desconfiando da ONU e da União Europeia.
- Plano no limbo -
O presidente palestino já pediu aos europeus que reconheçam a Palestina, em discurso em 22 de janeiro em Bruxelas, fazendo o mesmo com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, no dia 12 de fevereiro.
"É uma boa estratégia da parte dele. O simples fato de que venha falar no Conselho de Segurança é uma maneira formidável de reconhecimento e de negar a estigmatização americana", observa um diplomata ouvido pela AFP.
Há anos, o processo de paz no Oriente Médio amarga o impasse.
O governo Trump disse que trabalha em um plano de paz, o qual estaria - segundo diplomatas - em um limbo.
"Estão em plena discussão interna", comentou um diplomata, em conversa com a AFP. Ele disse duvidar de que Washington já saiba para onde ir.