O presidente americano, Donald Trump, assegurou nesta quinta-feira (22) que as escolas "sem armas" são um "ímã" para os assassinos em massa, reiterando sua proposta de armar alguns professores para obter um efeito dissuasivo ante possíveis ataques.
Em uma série de tuítes, o presidente considerou que essa medida poderia ser determinante: "uma escola 'sem armas' é um ímã para pessoas ruins", lançou, despertando o rechaço de parte da comunidade educacional e de legisladores republicanos e democratas.
Trump já havia apoiado essa proposta durante uma reunião na quarta-feira na Casa Branca com sobreviventes do massacre em uma escola da Flórida, que deixou 17 mortos na semana passada.
"Professores e treinadores altamente treinados e adeptos às armas solucionariam instantaneamente o problema antes da chegada da Polícia. GRANDE PODER DISSUASIVO", escreveu Trump.
O presidente considerou que 20% dos professores, aqueles adeptos às armas e com "antecedentes militares ou treinamento especial" poderiam portar "armas escondidas", o que lhes permitiria "imediatamente responder aos disparos se um louco selvagem entrasse em uma escola com más intenções".
"Se um 'atirador psicopata' sabe que uma escola tem um grande número de professores especialistas em armas (...) nunca atacará essa escola (...) Problema resolvido", assinalou.
Depois o presidente chegou a mencionar a possibilidade de dar um "bônus" aos que portarem armas nas salas de aula, mas sem dar mais detalhes.
Após o ataque a tiros na Flórida, Trump disse que promoverá controles nas compras de armas e propôs proibir um dispositivo que permite converter armas semiautomáticas em automáticas.
Mas o policial destacado na escola de ensino médio de Parkland, onde ocorreu o ataque a tiros, não entrou o edifício para tentar deter a massacre, disse Scott Israel, o xerife do condado de Broward, ao qual pertence Parkland.
Segundo o vídeo de segurança, que não será tornado público, o oficial esteve "no 'campus' durante todo o evento", armado e vestindo o uniforme, mas "nunca entrou" no prédio, lamentou Israel, afirmando que ver a filmagem o deixou "arrasado, dor de estômago, sem palavras".
O agente teria que ter "entrado, enfrentado o atacante, matado o assassino", acrescentou o xerife, indicando ter dado uma suspensão sem vencimentos ao policial e que este decidiu se demitir.
Não à corrida armamentista nas escolas
Mas a insistência do presidente em armar os professores gerou uma onda de rejeição.
"Pais e educadores rejeitam esmagadoramente a ideia de armar os funcionários das escolas", disse Lily Eskelsen Garcia, presidente da Associação Nacional de Educação (NEA), a maior união de profissionais dos Estados Unidos, com quase três milhões de membros.
"Trazer mais armas para nossas escolas não faz nada para proteger nossos estudantes e educadores da violência", acrescentou.
Randi Weingarten, chefe da Federação Americana de Professores, condenou o que chamou de "corrida armamentista" e esforços para "transformar as escolas em fortalezas militarizadas ao armar professores".
Para a professora Melissa Falkowski, que escondeu estudantes em sua sala de aula durante o ataque a tiros na escola Stoneman Douglas, a proposta é "ridícula".
"Por que estamos tratando nossas escolas como se devessem ser uma instalação militar com professores treinados como oficiais de Polícia e militares?" - questionou em entrevista à CNN.
Durante um debate na noite de quarta-feira na CNN, numerosas vozes também criticaram esse possível cenário.
"Devo me formar como uma policial ao invés de educar crianças?" - perguntou Ashley Kurth, também professora na Stoneman Douglas, de Parkland. "Devo usar um colete à prova de balas?" - acrescentou.
O senador republicano Marco Rubio também mostrou suas diferenças com Trump, afirmando sua oposição a essa ideia. Enquanto isso, o legislador democrata Richard Blumenthal chamou de "loucura tóxica".
'Vergonhosa politização'
Na série de tuítes, Trump também disse que apoiaria causas como aumentar a idade mínima para comprar um fuzil de 18 para 21 anos, e reforçaria os controles de antecedentes criminais e de saúde mental dos compradores em potencial.
Várias pessoas destacaram o fato de que o atirador de Parkland, Nikolas Cruz, de 19 anos, conseguiu comprar legalmente um fuzil semiautomático, enquanto precisava esperar completar 21 anos para beber nos Estados Unidos.
A Associação Nacional do Rifle (NRA), o poderoso lobby pró-armas que pagou 30 milhões de dólares na campanha presidencial de Trump, expressou sua oposição a qualquer aumento da idade legal para comprar uma arma, estimando que tal medida "pune cidadãos obedientes da lei para os atos malignos dos criminosos".
O chefe da NRA, Wayne LaPierre, denunciou "a vergonhosa politização" do ataque a tiros na Flórida e chamou de "movimentos venenosos" de supostos "socialistas" da esquerda americana e dos meios de comunicação que criticam o poderoso lobby.
"Para eles, não é uma questão de segurança, é um tema político", acrescentou LaPierre durante uma conferência anual de conservadores, em seu primeiro pronunciamento público após o ataque da Flórida.
LaPierre também parecia concordar com Trump em promover a fortificação das escolas para evitar mais ataques a tiros.
As escolas em áreas desarmadas são "alvos abertos para qualquer homem louco", afirmou, repetindo a posição de longa data da NRA: "Para deter um homem mau com uma arma, você precisa de um homem bom com uma arma".
Após o ataque na Flórida, os alunos sobreviventes lideraram o movimento #NeverAgain e convocaram marchas para exigir maior controle sobre o acesso às armas.