Jornal Estado de Minas

Regime sírio isola principal cidade rebelde em Ghuta e número de mortos passa de mil

As forças do regime sírio conseguiram neste sábado um avanço claro no enclave rebelde de Ghuta Oriental, isolando sua principal cidade, Douma, três semanas após o início de uma ofensiva devastadora para reconquistar este reduto rebelde, que já causou a morte de mais de mil civis.


Desde 18 de fevereiro, as forças leais ao presidente Bashar Al-Assad vêm submetendo este enclave assediado a um ataque que já custou a vida de 1.031 civis, entre eles 219 crianças, e deixou mais de 4.350 feridos, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).


As forças pró-regime conseguiram retomar mais da metade do enclave, de 100 km², controlado por duas facções rebeldes e onde cerca de 400 mil habitantes se encontram sitiados desde 2013.


Neste sábado, "isolaram Douma do restante de Ghuta Oriental, depois que tomaram o controle da estrada que a liga a Harasta, no oeste, e à localidade de Misraba, no sul", informou o OSDH.


Desta forma, "conseguiram dividir Ghuta Oriental em três partes: Douma e sua periferia ao norte, Harasta a oeste e o restante das localidades ao sul", afirmou o OSDH.


Durante o dia morreram oito civis nas cidades de Erbin e Harasta e outros 20 em Douma, segundo a organização.


O objetivo do regime é enfraquecer as facções rebeldes que controlam o enclave, de onde são lançados obuses contra a capital síria, deixando vítimas.


Segundo a agência oficial Sana, uma criança morreu neste sábado e quatro civis ficaram feridos no leste de Damasco por disparos de foguetes rebeldes.


Um correspondente da AFP em Douma informou que a cidade estava sendo bombardeada pelo ar e baterias de artilharia e que as ruas estavam vazias.


O conselho local de Douma lançou um "chamado de socorro" dirigido às organizações internacionais, afirmando que "numerosas pessoas dormiam nos jardins públicos e estradas, uma vez que os abrigos e porões estavam saturados".


Segundo o conselho, "enterrar os mortos é difícil" por conta dos bombardeios, que atingiram o cemitério da cidade.


- 'Medo nos rostos' -


A ofensiva começou com uma campanha aérea de violência incomum, inclusive para um país que, em 15 de março, entrará em seu oitavo ano de guerra. Mais de 340 mil pessoas já morreram e milhões tiveram que abandonar suas casas desde 2011.


Desde 18 de fevereiro, apenas dois comboios com ajuda humanitária puderam entrar na parte rebelde de Ghuta para ajudar a população, graças a uma trégua diária e parcial anunciada pelos russos, que, no entanto, não cessou a hostilidade.


O representante na Síria da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), Sajjad Malik, que entrou em Ghuta na última segunda-feira, no primeiro comboio, afirmou que a região está "à beira de uma catástrofe. Nunca vi tanto medo nos rostos", descreveu, em entrevista publicada na página da Acnur.


- Afrin ameaçada -


Em outra frente desta guerra, forças turcas e grupos rebeldes sírios aliados avançaram neste sábado até a cidade de Afrin, reduto da milícia curda YPG na Síria, que a Turquia deseja expulsar da fronteira entre os dois países.


"As forças turcas estão a menos de 2 km de Afrin, a nordeste da cidade", onde continuam os combates violentos e bombardeios aéreos e de artilharia", declarou neste sábado à AFP o diretor do OSDH.


A Turquia realiza uma ofensiva desde 20 de janeiro contra as Unidades de Proteção Popular (YPG), uma milícia que chama de "terrorista", no enclave curdo de Afrin, região no noroeste da Síria.


A ofensiva turca já matou mais de 200 civis, segundo o OSDH, o que o governo turco nega. Segundo o governo de Ancara, "são tomadas todas as precauções" para evitar atingir a população.


Por outro lado, os capacetes brancos, socorristas de defesa civil nas zonas rebeldes do país, anunciaram neste sábado que sofreram pela primeira vez a perda de uma mulher membro da formação, em bombardeios contra a província de Idlib.

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