Dezenas de civis, incluindo casos médicos, foram evacuados nesta terça-feira (13) do enclave rebelde sitiado de Ghuta Oriental, no mesmo dia em que a guerra na Síria entra em seu oitavo ano, deixando para trás ruínas e mais de 350 mil mortos.
As evacuações aconteceram sob a supervisão da ONU através do corredor de Al-Wafidin, o principal ponto de passagem entre o enclave rebelde e Damasco e situado no nordeste de Duma, a maior cidade de Ghuta Oriental.
Foram evacuados 24 homens, 44 mulheres e 78 crianças, incluindo 10 doentes, indicou à AFP uma fonte militar síria.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), essa operação aconteceu nas cidades de Duma e Rihan (norte), sob controle do grupo Yaish al-Islam, uma das principais facções rebeldes de Ghuta.
"As evacuações de civis, incluindo de casos médicos, começaram e prosseguem", afirmou um responsável da ONU em Damasco.
Em Al-Wafidin, uma correspondente da AFP viu um grupo de mulheres e crianças em roupas de inverno bem como idosos esperando, sentados, em cadeiras de plástico.
Três ambulâncias do Crescente Vermelho Sírio e uma clínica móvel aguardavam para transferir as pessoas evacuadas para centros de acolhimento no setor de Al-Dueir, nas mãos do regime, segundo a mesma fonte.
A televisão estatal síria exibiu imagens do Crescente Vermelho recebendo os civis evacuados.
Ontem, Yaish al-Islam havia informado sobre um acordo negociado "por meio da ONU com a Rússia [...] para evacuar os feridos em várias etapas".
Segundo Yuri Evtuchenko, chefe do Centro russo para a reconciliação na guerra na Síria, citado pela agência russa Interfax, essas evacuações são o resultado de "negociações entre o Centro e os líderes de grupos armados ilegais em Ghuta Oriental".
Último enclave rebelde às portas de Damasco, Ghuta Oriental está sitiada desde 2013 e é alvo de uma vasta ofensiva das forças do governo sírio desde 18 de fevereiro.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Damasco já controla 60% do enclave. A ofensiva contra Ghuta deixou 1.185 civis mortos até o momento.
Mais de mil pessoas precisam de cuidados médicos de urgência na parte rebelde de Ghuta, anunciou a ONU na segunda-feira (12).
"Trata-se, em sua maioria, de mulheres e crianças", havia indicado Linda Tom, porta-voz do Bureau de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (Ocha) em Damasco.
Segundo o Ocha, 77 "casos prioritários" entre os mil doentes e feridos.
- Oitavo ano de guerra -
A Síria, em ruínas e fragmentada, entra nesta terça-feira, em seu oitavo ano de guerra contra o Estado Islâmico (EI), já derrotado, mas ensanguentada pela luta de influência entre potências estrangeiras e a ofensiva de reconquista do regime Assad.
"Hoje o regime controla mais da metade do território, domina grandes cidades (...) é evidente que venceu", declara, categórico, o especialista em Síria Fabrice Balanche.
Nos sete anos de guerra, mais de 350 mil pessoas morreram, foram cometidas atrocidades, como o uso de armas químicas e massacres de civis. Há também acusações de crimes de guerra. E o banho de sangue continua diariamente diante da impotência da comunidade internacional.
Em março de 2011, em plena Primavera Árabe, manifestações pró-democracia foram reprimidas violentamente pelo regime. O movimento transformou-se em insurreição armada com o surgimento de facções rebeldes.
A guerra se complicou com o envolvimento de países como Rússia, Turquia e Estados Unidos em várias frentes que fragmentaram o país.
Este é o caso do enclave curdo de Afrin (noroeste), alvo desde 20 de janeiro de uma ofensiva turca contra uma milícia curda considerada "terrorista" por Ancara, mas aliada de Washington e que desempenhou um papel muito importante na luta contra o Estado Islâmico (EI).
O sétimo aniversário da guerra também é marcado pelo declínio do EI, que havia conquistado extensas áreas do país em 2014.
O grupo ultrarradical, responsável por inúmeros atentados dentro e fora do país, foi derrotado no Iraque e na Síria, restringindo-se a focos de resistência.