Curitiba vive um dia de muita tensão com a presença da caravana liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, nesta quarta-feira, deverá cruzar com grupos de adversários e o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, depois de, na noite anterior, ter sido alvo de disparos de balas.
As forças de segurança do estado do Paraná reforçaram a vigilância, depois dos disparos na noite de terça-feira contra dois dos três ônibus da comitiva de Lula, ocorridos entre as localidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul.
Os disparos foram feitos por ao menos duas armas, já que a polícia identificou orifícios do lado esquerdo de um dos veículos e do lado direito do outro, indicou o delegado Fabiano Oliveira, de Laranjeiras do Sul, citado pela imprensa.
Lula viajava no terceiro ônibus, informou o Partido dos Trabalhadores (PT).
"Espero que nós tenhamos segurança, que a polícia nacional e estadual, a Inteligência possam cumprir seu papel para que, assim, a gente possa fazer uma manifestação pacífica e democrática como sempre fivemos", disse à AFP, por telefone, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
O presidente Michel Temer, falando à rádio Bandnews de Vitória, considerou "uma pena que tenha acontecido isso porque vai criando um clima de instabilidade no país, de falta de pacificação, que é indispensável no presente momento".
"É absolutamente inaceitável que isso aconteça, parta de quem partir. Isso não é convivência democrática. Isso não pode acontecer, e se acontecer é preciso identificar os responsáveis porque não pode se repetir dentro do regime democrático", declarou, por sua vez, o ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann.
A comitiva do ex-presidente - favorito nas pesquisas para as eleições, apesar de ameaçado de ter sua candidatura invalidada por ter sido condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção - foi hostilizada ao longo do trajeto de dez dias em sua passagem pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Os protestos foram pequenos, mas não deram trégua.
"Se pensam que com pedras e tiros vão abalar minha disposição de lutar, estão errados", tuitou Lula, que atribuiu os ataques a "grupos fascistas".
O sul do país é hostil a Lula e, segundo a imprensa, vários assessores desaconselharam que ele empreendesse essa viagem. No ano passado, por outro lado, visitou o empobrecido nordeste, reduto de sua popularidade.
- Bolsonaro mede forças -
Bolsonaro desafiou Lula a mostrar na capital paranaense "quem leva mais pessoas para as ruas sem pagar".
Dezenas de partidários do deputado ultraconservador se concentraram no aeroporto para esperar o candidato que elogia a ditadura militar (1964-85) e seus métodos de tortura.
Alguns exibiam bonecos com a figura do ex-paraquedista de 63 anos, segundo colocado nas pesquisas com metade das intenções de voto de Lula.
O estudante Gabriel Helse, de 15 anos, foi com vários colegas para pedir a militarização das escolas
"Agora os alunos fazem o que querem nas instituições federais. Olha só o Rio, aluno batendo nos professores, fazendo o que querem ... eu falo porque eu sou aluno de instituição federal", afirmou.
O Movimento Brasil Livre (MBL), muito ativo nos protestos que acompanharam o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, convocou uma caminhada até o Parque Barigui, a menos de um quilômetro de Santos Andrade, onde se realizará o ato do PT.
"Há riscos de enfrentamentos", afirma o consultor e analista político Paulo Mora, que destaca uma radicalização crescente no país.
Os adversários de Lula se viram frustrados depois que o STF prorrogou até pelo menos 4 de abril sua prisão, pois nesta data os juízes decidirão se ele tem direito a apelar ante máximos tribunais sua longa sentença em liberdade.
"Por isso se vê essas hostilidades entre os dois movimentos no sul.
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