A queda de Ghuta Oriental, nas proximidades da capital síria Damasco, abre o caminho para uma nova operação militar do regime, que poderia se voltar para a província de Deraa, um dos últimos redutos insurgentes no país.
Depois de resistir durante cinco anos ao mais longo cerco do conflito na Síria, Ghuta foi oficialmente declarada "limpa" no sábado (14), depois de uma ofensiva lançada em 18 de fevereiro pelo regime de Bashar al-Assad, que deixou 1.700 civis mortos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A reconquista de Ghuta é simbólica devido à sua situação geográfica e porque encerra os disparos de foguetes pelo rebeldes contra a capital.
Em sua campanha para reconquistar essa zona, o Exército sírio e a Rússia, seu aliado, recorreram a intensos bombardeios e combates terrestres, antes de iniciar negociações de rendição com os diferentes grupos rebeldes.
Agora o regime poderia aproveitar essa vitória para tentar liquidar as últimas áreas fora do seu controle em Damasco e seus arredores.
De acordo com o jornal pró-regime Al-Watan, a prioridade das forças governamentais poderia ser "resolver definitivamente a questão no sul da capital".
Nessa área ainda há vários focos de resistência rebelde, especialmente no campo de refugiados palestinos de Yarmuk, dominado pelos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Mas, segundo Julien Théron, especialista no conflito sírio, "a persistência de territórios sob controle do EI serve à argumentação do regime, que tem interesse em se concentrar primeiro nas zonas rebeldes".
- "Libertar cada centímetro" -
O regime de Assad, que recuperou terreno partir de 2015 graças ao apoio da Rússia e do Irã, agora controla mais da metade da Síria, um território onde vivem dois terços da população.
O presidente prometeu "libertar cada centímetro quadrado do território sírio".
Numerosos especialistas consideram que o próximo alvo poderia ser a província de Deraa, um dos primeiros lugares em que as manifestações contra Assad eclodiram em 2011.
Esta província, localizada perto da Jordânia e das Colinas de Golã, anexada por Israel, está nas mãos de diferentes grupos rebeldes - que controlam 70% dessa região - e das forças do regime e do EI, cuja presença é limitada.
"A libertação de Ghuta Oriental marca o fim da ameaça contra Damasco. Seria lógico que o governo sírio redistribuísse suas forças no sul para acabar com a situação atual em Deraa", aponta Bassam Abu Abdullah, do Centro de Damasco para Estudos Estratégicos.
Segundo ele, o regime aproveitará suas recentes vitórias para aplicar uma tática similar de "pressão militar".
Para o especialista, o fato de os rebeldes controlarem a fronteira sul da Síria "mancha a imagem do regime". Além disso, recuperar o comércio com a Jordânia representaria uma receita importante para o regime.
- "Cálculos geopolíticos" -
Uma única província ainda escapa quase completamente ao controle do regime, Idlib, no noroeste, perto da fronteira com a Turquia.
A organização jihadista Hayat Tahrir Al Sham, dominada pelo que era a facção síria da Al-Qaeda, controla a maior parte da província.
A província "não está na mira de Damasco até nova ordem, porque está sujeita a cálculos mais geopolíticos do que militares", diz Sam Heller, analista do International Crisis Group.
"O destino do Idlib está ligado ao que a Turquia e a Rússia traçam nos bastidores", diz ele.
A província de Idlib, onde estima-se que 2,5 milhões de pessoas vivem, incluindo mais de um milhão de refugiados, é o local para onde o regime geralmente envia os combatentes rebeldes e suas famílias sob acordos selados com os insurgentes.
Seja qual for a opção escolhida pelo regime, é difícil imaginar uma ofensiva simultânea em Idlib, no norte, e em Deraa, no sul.
"Isso exigiria a mobilização de forças impressionantes, dado que o regime teve que usar seus meios mais importantes para retomar Ghuta", cuja superfície é muito menor, diz Théron.
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