A organização separatista basca ETA anunciou oficialmente nesta quinta-feira (3) sua dissolução e o fim de "toda a atividade política", encerrando a última insurreição armada da Europa ocidental após décadas de violência.
"ETA quer informar ao povo basco sobre o fim de sua trajetória", afirma a "declaração final" divulgada em Genebra.
"ETA desmantelou totalmente o conjunto de suas estruturas. ETA dá por encerrada toda sua atividade política", completa o texto, com data de 3 de maio e assinada com o símbolo do grupo, uma serpente enroscada em um machado.
Mas o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, anunciou um pouco antes que a organização separatista não deve esperar impunidade por sua iminente dissolução.
"Faça o que fizer, o ETA não vai encontrar nenhum resquício para a impunidade de seus crimes", afirmou o chefe de Governo conservador, que rejeitou qualquer diálogo com o grupo desde que chegou ao poder em 2011.
"Não conseguiu nada quando deixou de matar porque sua capacidade operacional foi liquidada pelas forças de segurança e tampouco vai conseguir nada agora com novas operações de propaganda", completou Rajoy, em um evento em Logroño (norte), perto do País Basco.
Fundado em 1959 sob a ditadura de Francisco Franco, acusado de reprimir a cultura basca, o ETA deixou um rastro de violência, com pelo menos 829 mortos ao longo de quatro décadas em sua campanha pela independência do País Basco e Navarra.
Considerado um grupo terrorista pela União Europeia, o ETA matou - em atentados com bomba, ou tiros - políticos, policiais, militares, juristas e civis. O grupo também recorreu a sequestros e extorsões.
Afetada pelas sucessivas operações policiais e ante o repúdio generalizado da população, a organização acabou renunciando à violência em 2011. No ano passado, anunciou que entregou suas armas às autoridades francesas.
Na quarta-feira, foi divulgada uma carta com data de 16 de abril, na qual o ETA afirma que "dissolveu completamente todas as suas estruturas" e que "decidiu dar por encerrados seu ciclo histórico e sua função para propiciar um novo ciclo político".
A carta era dirigida a personalidades que atuaram como mediadores para o fim da violência, como o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, ou o ex-líder do Sinn Fein irlandês Gerry Adams, de acordo com um integrante do governo regional basco.
O anúncio da dissolução será seguido por uma "conferência internacional" na sexta-feira no País Basco francês, onde são esperados Gerry Adams e representantes de partidos espanhóis, mas onde não estarão presentes nem o governo espanhol nem o francês.
"ETA devia (esta dissolução) à sociedade basca e ao conjunto da humanidade", afirmou o presidente regional basco, o nacionalista Iñigo Urkullu, em uma entrevista ao jornal "El País". "Nunca deveria ter existido", completou.
Horas depois do anúncio, o líder separatista Arnaldo Otegi advertiu que "continuamos sendo um povo que ainda não conhece nem a paz, nem a liberdade. Não vamos parar de buscá-las até alcançá-las, com nosso trabalho e nossa atividade diária".
Otegi, de 59 anos, é o líder da formação independentista Bildu, segunda força no Parlamento regional basco, que obteve 21% dos votos nas eleições de 2016.
Na conversa com a imprensa, deu "as boas-vindas à decisão" da ETA de se dissolver, o que, segundo ele, "reflete sua responsabilidade histórica ao dar por concluída de maneira definitiva e ordenada sua própria atividade".
Já a Anistia Internacional indicou que o fim do ETA "não reduz a responsabilidade de seus membros de colaborar na investigação e esclarecimento dos crimes cometidos".
- 358 crimes sem explicação -
Após 40 anos de atentados, as feridas continuam abertas.
Políticos espanhóis e vítimas ficaram indignadas com a mensagem divulgada pelo ETA no dia 20 de abril, na qual o grupo pediu perdão pelas vítimas "sem responsabilidade" no conflito, dando a entender que os assassinatos de policiais e militares eram legítimos.
A maioria dos bascos rejeita a violência, mas uma minoria ainda defende a independência. A coalizão separatista EH Bildu, segundo partido no parlamento basco, recebeu 21% dos votos nas releições regionais de 2016.
Bildu exige, assim como o Partido nacionalista basco Urkullu, que os cerca de 300 prisioneiros do EI na Espanha e na França possam cumprir suas sentenças mais perto de suas famílias.
Apesar da promessa do governo espanhol de não ceder, Urkullu expressou esperança a respeito de uma mudança na política penitenciária em uma entrevista ao El Pais.
.