O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (8) a retirada americana do "desastroso" acordo multilateral assinado em 2015 com o Irã sobre seu programa nuclear, e o restabelecimento imediato das sanções econômicas contra Teerã.
Em um pronunciamento dramático na Casa Branca, Trump afirmou que a comunidade internacional não pode "prevenir uma bomba nuclear iraniana sob a estrutura apodrecida deste acordo" e por isso decidiu retirar seu país do tratado.
O acordo, conhecido pelas siglas em inglês JCPOA, foi assinado em 2015 pelo Irã e por Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China, e se refere a mecanismos de enriquecimento de urânio para impedir que Teerã desenvolva uma arma nuclear.
No mesmo dia, todos os outros signatários do acordo reafirmaram a intenção de se manter fiéis ao entendimento, mas a retirada americana abre uma interrogação real sobre sua sobrevivência como ferramenta diplomática.
"Estou anunciando hoje que os Estados Unidos vão se retirar do acordo nuclear com o Irã. Em instantes, assinarei o memorando presidencial que restabelece sanções" ao Irã, disse o presidente em uma mensagem televisionada da Casa Branca.
Após sua declaração histórica, Trump sentou-se em uma pequena escrivaninha, onde assinou o documento marcando a ruptura de Washington com o acordo que a comunidade internacional costurou com o Irã durante anos de esforços diplomáticos continuados.
- Voltam sanções ao Irã -
"Implementaremos sanções econômicas no mais alto nível. Qualquer nação que ajudar o Irã em sua busca por armas nucleares também será sancionada fortemente pelos Estados Unidos. Não seremos reféns de uma chantagem nuclear", afirmou Trump.
John Bolton, o 'falcão' no cargo de assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, destacou que as sanções que haviam sido suspensas pela assinatura do acordo de 2015 foram restabelecidas com efeito imediato e advertiu para a possível adoção de medidas adicionais.
O secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmou que embora Washington concorde com seus aliados na necessidade de impedir o acesso do Irã a uma arma atômica, o governo americano tem interesses que vão além do acordo nuclear.
"Nosso esforço é mais amplo do que apenas o acordo nuclear", afirmou, mencionando a "eliminação da ameaça do programa balístico" iraniano, interrupção de suas "atividades terroristas" e o "bloqueio de suas atitudes ameaçadoras no Oriente Médio".
Por isso, acrescentou o chefe da diplomacia americana, "as sanções estão em pleno efeito" para lembrar ao governo de Teerã "os resultados de sua atividade irresponsável e maligna".
A decisão de Trump foi adotada apesar dos apelos reiterados a não deixar o acordo, feitos por aliados firmes, como França, Alemanha ou Reino Unido, que são signatários do tratado.
Instantes depois, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, fez um apelo urgente a todos os outros signatários do acordo para que reafirmem suas obrigações.
Em nota oficial, Guterres afirmou estar "profundamente preocupado" e pediu "aos outros participantes do JCPOA que mantenham plenamente seus respectivos compromissos".
- Fissuras evidentes -
O gesto do presidente americano abre uma fissura evidente em sua aliança com países europeus e as outras potências nucleares sobre a continuidade do acordo com o Irã.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, lamentou a decisão americana e disse que o bloco europeu está "determinado a preservar" o acordo.
Em uma mensagem postada no Twitter, o presidente francês, Emmanuel Macron, destacou que "França, Alemanha e Reino Unido lamentam a decisão americana" e acrescentou que estes três países vão trabalhar "coletivamente" a favor de um acordo "mais amplo".
Em seguida, estes três governos emitiram uma nota conjunta, na qual apontaram que "permanecem comprometidos em assegurar que o acordo seja respeitado".
O governo da Rússia, por sua vez, destacou em nota oficial que está "profundamente decepcionado" com a decisão americana, que "pisoteia grosseiramente as normas da legislação internacional".
O presidente iraniano, Hassan Rohani, por sua vez, afirmou em mensagem transmitida pela TV que seu país está disposto a negociar com Europa, Rússia e China formas de garantir os interesses iranianos.
"Dei instruções à Organização Iraniana de Energia Atômica que tome as medidas requeridas para futuras ações de forma que, caso seja necessário, possamos retomar o enriquecimento industrial (de urânio) sem limites", disse.
No entanto, acrescentou que para isto "esperaremos algumas semanas antes de aplicar esta decisão".
Em contrapartida, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse em mensagem televisionada que seu governo apoia totalmente o gesto corajoso de Trump.
Netanyahu lembrou ter se oposto ao acordo "desde o começo" porque "não só este acordo não bloqueia a via do Irã para a bomba, mas abre caminho para um arsenal completo de armas nucleares e isto em alguns anos".
- "Erro monumental" -
No campo doméstico, até o habitualmente discreto ex-presidente Barack Obama rompeu seu silêncio para afirmar, em nota oficial, que a decisão de Trump foi "equivocada".
"A realidade é clara: o JCPOA está funcionando", afirmou o ex-presidente.
Para o ex-secretário de Estado John Kerry, principal negociador do acordo, a decisão de Trump "fragiliza nossa segurança, rompe a palavra dos Estados Unidos, isola nossos aliados europeus, põe Israel em maior risco, dá poder à 'linha dura' iraniana (...) e fragiliza a capacidade do governo de fazer acordos internacionais".
Para Kerry, a extensão do dano provocado pela decisão desta terça-feira dependerá "do que a Europa possa fazer para manter o acordo de pé e das reações do Irã".
O diplomata Tony Blinken, que foi vice-secretário de Estado quando o acordo foi assinado, em 2015, disse que a retirada de Washington foi um "erro monumental".
Além disso, apontou Blinken, o gesto de Trump outorgou aos defensores de uma 'linha dura' no governo do Irã um argumento para retomar suas tentativas de conseguir uma arma nuclear.
Wendy Sherman, outra ex-negociadora americana, disse à imprensa que Trump colocou a estabilidade internacional em risco "unicamente por questões políticas domésticas".
"Esta é uma crise que o próprio Trump precipitou para responder à sua base, para cumprir uma promessa de campanha, sem ter sequer uma ideia de que é ter um plano B", avaliou.
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