Os diálogos de paz com o ELN serão retomados nesta quinta-feira em Cuba e, embora as partes esperem um cessar-fogo no curto prazo, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, admite que não poderá ser alcançado um acordo final antes de concluir seu mandato em agosto.
"Amanhã (quinta-feira, 10) serão retomadas oficialmente as negociações com o ELN para ver se conseguimos um cessar-fogo e eu estou convencido de que vamos alcançá-lo", disse o presidente em uma reunião com empresários em Berlim, onde está em visita oficial esta semana.
Santos, que deixará o poder em agosto após dois mandatos de quatro anos, assegurou que os esforços visam a alcançar um acordo final "o mais cedo possível" com a última guerrilha ativa em seu país.
"Eu não poderei assinar este acordo, mas espero deixar para o presidente seguinte a via pavimentada na direção certa", acrescentou o presidente, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2016 por suas tentativas de encerrar o último conflito interno das Américas.
As declarações de Santos foram divulgadas nesta quarta-feira (9) pelo governo em Bogotá.
- Melhor que o anterior -
Pablo Beltrán, chefe da delegação negociadora do ELN, também espera que se possa alcançar um cessar-fogo no curto prazo.
"Estamos prestes a reiniciar em Havana este ciclo de conversações. É muito importante que possamos levar adiante um novo cessar-fogo muito melhor do que o anterior, embora não seja o fim do conflito", disse em Havana, em um vídeo difundido pela organização dos diálogos.
As negociações começaram em fevereiro de 2017, em Quito (capital do Equador), onde se alcançou um histórico cessar-fogo desde outubro do ano passado, que se estendeu por 101 dias, sob críticas mútuas de descumprimentos.
Ao fim da trégua, em janeiro de 2018, o governo colombiano denunciou uma ofensiva imediata do ELN - que tem uns 1.500 combatentes -, que atrasou o início do quinto ciclo de negociações.
Estas finalmente foram retomadas até que o Equador se afastou oficialmente como país sede e garantidor em 20 de abril, após ataques inusitados e sequestros realizados por dissidentes da dissolvida guerrilha colombiana das Farc em seu território. Nesta quinta-feira, as negociações serão, por fim, retomadas na capital cubana.
As partes tinham assegurado no sábado passado, quando anunciaram Cuba como a nova sede, que se concentrarão em pactuar uma nova trégua bilateral.
A ilha caribenha, que também é avalista do processo com o ELN, sediou durante quatro anos os diálogos com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que terminaram no final de 2016 com um acordo que desarmou e transformou a ex-guerrilha comunista em partido político.
Santos busca por meio do acordo com o ELN a "paz completa" na Colômbia, que durante meio século viveu um conflito armado que confrontou guerrilhas, paramilitares, narcotraficantes e agentes do Estado, que deixou oito milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.
Os esforços do presidente poderiam ser ofuscados se a direita, contrária a estas negociações, vencer as eleições presidenciais de 27 de maio.
O senador Iván Duque, do direitista Centro Democrático liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, feroz opositor de Santos, lidera as pesquisas.
Diante deste cenário, Beltrán invocou todos os setores políticos do país a "manter a palavra dos acordos e manter a continuidade do esforço pela paz".