Jornal Estado de Minas

Londres se desculpa com opositor líbio que foi entregue a Kadhafi

O governo britânico pediu nesta quinta-feira (10) desculpas ao islamita Abdel Hakim Belhadj por ter participado em seu sequestro na Tailândia e sua entrega em 2004 ao governo líbio de Muammar Kadhafi, que o prendeu e torturou por anos.

"As ações do governo britânico contribuíram para sua prisão, entrega e sofrimento (...) Em nome do Governo de Sua Majestade, peço desculpas", declarou a primeira-ministra Theresa May em uma carta a Belhaj e sua esposa Fátima Boudchar, lida no Parlamento pelo procurador-geral Jeremy Wright.

O casal agradeceu a decisão do governo.

"Quero expressar minha gratidão por essa decisão corajosa da primeira-ministra e do procurador-geral", disse Belhaj em coletiva de imprensa em Istambul, onde mora atualmente.

"Essas desculpas são aceitas e acabam com anos de sofrimento", acrescentou o dissidente, e depois comandante militar da rebelião na Líbia.

Fátima Boudchar, que estava no Parlamento quando o procurador leu a carta, disse: "agradeço o pedido de desculpas do governo britânico que convidou o meu filho e eu ao Reino Unido para ouvi-lo. Aceito o pedido de desculpas".

Belhaj, um ex-líder do opositor Grupo Islâmico Combatente, passou mais de seis anos anos em uma prisão do regime de Muammar Kadhafi após ter sido sequestrado na Tailândia pelos serviços secretos britânicos e americanos.

Ele foi então preso na famosa prisão de Abu Selim, onde diz que foi interrogado por agentes da inteligência britânica.

"Injetaram alguma coisa em mim, me penduraram em uma parede pelos braços e pernas e me colocaram em um contêiner cercado por gelo", relatou em 2011 ao jornal The Guardian, descrevendo seu tempo na prisão.

"Não me deixavam dormir, e havia barulho o tempo todo. Me torturavam regularmente", acrescentou.

"Fiquei surpreso em saber que os britânicos estavam envolvidos neste período muito doloroso da minha vida", disse ele.

Belhaj processou o governo britânico e os serviços de inteligência deste país em 2011.

Após a queda de Kadhafi, ele fundou o partido Al-Watan, que não conseguiu deputados nas eleições legislativas de 2012 e 2014.

Fundou em seguida uma rede de televisão islâmica em Istambul.

O governo britânico reconheceu em sua carta que o casal "foi submetido a um sofrimento devastador" e revelou que chegou a um acordo.

A mulher receberá uma indenização de 500.000 libras (678.000 dólares), enquanto Belhaj não pediu indenização, mas apenas um pedido de desculpas.

Boudchar estava grávida de quatro meses e meio quando foi sequestrada com o marido e explicou que foi amarrada a uma maca durante a viagem de 17 horas a Trípoli.

Ela foi libertada pouco depois de ter seu filho.

"Nós deveríamos ter entendido antes as práticas inaceitáveis de alguns dos nossos parceiros internacionais. Lamentamos sinceramente os nossos erros", acrescentou em sua carta a primeira-ministra, referindo-se ao regime de Kadhafi, derrubado e executado em 2011.

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