A iminente chegada de um governo antissistema à Itália poderia provocar expulsões em massa de imigrantes, depois de o atual governo de centro-esquerda já ter fechado grande parte da fronteira marítima.
Agora, o programa comum do Movimento 5 Estrelas (M5S, partido antissistema) e da Liga (extrema-direita) quer acelerar o processo de exame dos pedidos de asilo e expulsar sistematicamente os que forem rejeitados - como os cerca de 500 mil que vivem ilegalmente na Itália.
No ritmo atual de expulsões - foram 6.514 em 2017 segundo dados do Ministério do Interior -, esse objetivo levaria 75 anos para ser completado, alertou a imprensa italiana.
O governo italiano tenta obter autorização dos países de origem para devolver seu migrantes e tem apenas centros de retenção.
Mas o programa comum quer estabelecer outra instituição de retenção, fixar em 18 meses a duração máxima das estadias e transferir para procedimentos de expulsão parte dos 4.200 milhões de euros destinados anualmente ao acolhimento.
A redução das chegadas de migrantes da Líbia já era uma prioridade de Marco Minniti, ex-comunista que passou pelos serviços secretos, ministro do Interior desde dezembro de 2016. Ele conseguiu reduzir as chegadas em 80% desde julho.
Graças a seus contatos na Líbia, ele conseguiu assinar acordos com autoridades e também com as milícias para bloquear os migrantes. Com apoio europeu, a Itália formou e equipou guardas costeiros líbios.
Desde o começo do ano, o Ministério do Interior registrou 7.100 chegadas da Líbia e 3.500 de Tunísia, Argélia e Grécia.
Para além das cifras, o que mudou foi o procedimento. Durante anos, os guardas costeiros italianos tinham coordenado com Roma todas as operações de resgate na região. Agora, transmitem a informação à Líbia, que se encarrega cada vez mais das operações.
Para os migrantes, a diferença é capital. Se Roma coordena, eles são levados à Itália. Se é o governo de Trípoli, são enviados à Líbia, onde muitas vezes são sujeitos à violência e à extorsão.
"Reduziram as chegadas, mas não interrompeu o sofrimento", disse Carlotta Sami, porta-voz da agência da ONU para os refugiados (Acnur).
"Não tinha medo da água, porque Deus criou a água.
Em muitos casos, os líbios ordenam às ONGs que fiquem afastadas dos imigrantes em risco, mesmo quando estão muito longe ou não contam com o equipamento necessário para o resgate.
- 'Mais perigoso do que nunca' -
"Isso nos coloca em situações impossíveis", garante Ruben Neugebauer, porta-voz da ONG alemã Sea-Watch. "Se obedecemos, infringimos nossa obrigação de resgate. Se não obedecemos, nos arriscamos a não poder trazer os imigrantes à Itália ou que nosso barco seja confiscado pela Justiça italiana".
Além disso, nos resgates que o governo italiano ainda coordena, os guardas costeiros não reagrupam mais os migrantes, mas obrigam seus barcos a voltar para a Itália.
"Atravessar hoje é mais perigoso que nunca", diz o diretor da OIM para a região do Mediterrâneo. A organização registrou 383 mortes ou desaparecimentos nas costas líbias neste ano.