Os bombardeios da coalizão internacional para libertar Raqa do grupo extremista Estado Islâmico (EI) mataram centenas de civis e deixaram a cidade síria em ruínas, incorrendo em "possíveis crimes de guerra", denuncia a Anistia Internacional (AI) em um relatório.
A organização de defesa dos direitos humanos visitou 42 locais atingidos pelos bombardeios da coalizão integrada por Estados Unidos, França, Reino Unido e outros países, que atuou entre 6 de junho e 17 de outubro de 2017 para expulsar da cidade os extremistas que haviam assumido o controle de Raqa três anos antes, e entrevistou mais de 100 sobreviventes.
"A operação matou centenas de civis, feriu um número muito maior e destruiu grande parte da cidade", afirma a AI no relatório, que tem como título "Guerra de aniquilação", palavras retiradas da ameaça de um general americano ao Estado Islâmico.
O informe cita o caso da família Hashish, que perdeu 18 integrantes.
Um ataque aéreo da coalizão matou nove pessoas da família, sete morreram quando tentavam fugir por uma estrada na qual o EI havia colocado minas e duas morreram em um ataque de morteiro disparado pelas Forças Democráticas Sírias (FDS).
"Aqueles que ficavam, morriam. Aqueles que tentavam escapar, morriam. Não podíamos pagar os contrabandistas, estávamos presos", declarou Munira Hashish à Anistia Internacional.
Ao lado dos filhos, ela sobreviveu ao ataque aéreo e às minas. Ela afirmou que conseguiu escapar "pisando no sangue dos que explodiram ao tentar fugir na nossa frente".
A organização com sede em Londres pediu aos Estados Unidos e seus aliados que investiguem "rapidamente e de maneira efetivas as informações críveis de violações do direito internacional humanitário e indenizem as vítimas e as famílias das vítimas de tais violações".
Ao ser questionado pela agência de notícias britânica Press Association, o porta-voz da coalizão, coronel Sean Ryan, disse que os militares fazem todo o possível para minimizar os danos.
Mas devido ao "entorno urbano complexo de Raqa", entre outras coisas, "é necessário aceitar que o risco vítimas civis involuntárias está sempre presente".