O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta terça-feira (5) uma vibrante defesa do Brasil glorioso que governou, ao prestar depoimento por videoconferência no julgamento da suposta corrupção na escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
O ex-chefe de Estado (2003-2010), que desde abril cumpre em Curitiba uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, apareceu de terno escuro e gravata com as cores do Brasil e se mostrou bem-humorado ao responder às perguntas formuladas a partir de um tribunal do Rio, constatou uma jornalista da AFP.
"Tô bonito, né?", brincou Lula, de 72 anos, quando a conexão foi estabelecida e ele apareceu em uma sala iluminada numa mesa cheia de papéis, seus óculos, uma jarra de água e um microfone.
O ex-presidente foi citado como testemunha de defesa do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, condenado a mais de 100 anos de prisão por corrupção.
Na parte da tarde será a vez, também por videoconferência, de Pelé como testemunha de defesa do ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Rio-2016 Carlos Arthur Nuzman.
Também foram indiciados no processo os senegaleses Papa Massata Diack e seu pai Lamine Diack, que, em 2009, quando se votou a sede das Olimpíadas, era presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do COI, e que segundo a acusação recebeu dois milhões de dólares para comprar os votos da delegação africana.
O juiz Marcelo Bretas, que ao final da audiência confessou que quando jovem havia tido simpatias "lulistas", pediu ao ex-presidente que evitasse "digressões políticas". Ao que Lula, que se declara inocente de todas as acusações, respondeu: "Não acredito que haja um brasileiro mais em busca da verdade do que eu. Estou cansado de mentiras. Quero a verdade".
- "Simpatia brasileira" -
Lula assegurou que não houve compra de votos para que o Brasil, que já havia sido escolhido como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014, conseguisse para o Rio a organização dos Jogos Olímpicos de 2016.
"É importante ressaltar que, quando nós fomos disputar as Olimpíadas, tínhamos consciência de quebrar a hegemonia do primeiro mundo". declarou.
A "união extraordinária" do Brasil com os países da Africa e da América Latina "me dava quase que a certeza que a gente poderia ganhar", acrescentou.
"Não teve troca" de favores, insistiu, antes de destacar que o "Brasil teve a maior votação da história das Olimpíadas".
"Eu só lamento que a denúncia de corrupção de compra de votos foi feita oito anos depois", acrescentou.
Lula assegurou que soube aproveitar sua notoriedade internacional e do momento de crescimento econômico que vivia o Brasil para colocar o país "no cenário esportivo internacional".
"Sem o envolvimento do Brasil como um todo, o Rio de Janeiro não ganharia" a organização dos Jogos, porque já havia tentado outras vezes. "O Brasil vivia um momento excepcional, vivia um protagonismo internacional", declarou.
O ex-metalúrgico contou anedotas das campanhas que levaram o COI a dar preferência ao Rio de Janeiro em detrimento de Chicago e Tóquio. Ele citou um jantar com a rainha da Dinamarca antes da votação, que também contou com a participação da então primeira-dama americana Michele Obama, "derramando simpatia", e também destacou seu empenho em "mostrar a simpatia brasileira".
Lula, que apesar de sua condenação segue liderando as intenções de voto para a eleição de outubro, ouviu ao final de seu depoimento que o próprio juiz Bretas havia sido "lulista".
"O senhor é uma figura importante no nosso país, é relevante sua história para todos nós. Para mim, inclusive.
"Pode usar agora o boné e a camisa", rebateu Lula em alusão a sua pré-candidatura. "Quando eu fizer um comício agora vou chamar o senhor para participar", completou.
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