Jornal Estado de Minas

Londres de luto no aniversário do incêndio da Torre Grenfell

Minuto de silêncio e pombas brancas: o Reino Unido recorda nesta quinta-feira (14) um ano do incêndio da Torre Grenfell, um prédio de apartamentos sociais em Londres, que custou a vida de 17 pessoas.

Na madrugada de 14 de junho de 2017, o incêndio começou na cozinha de um apartamento no quarto andar, em uma geladeira defeituosa. As chamas rapidamente devoraram o prédio de 24 andares e os habitantes do bairro assistiram, impotentes, dezenas de moradores encurralados pelo fogo.

Echarpe verde nos ombros, as famílias em luto, moradores e membros de associações, bem como a conservadora Elizabeth Campbell, chefe do conselho municipal de Kensington and Chelsea, responsável pelo edifício, reuniram-se pouco antes das 11H00 (7H00 de Brasília), na igreja St Helen de Londres para uma "celebração de recordação".

"É a ocasião para se reunir, rezar juntos", ressaltou à AFP Graham Tomlin, bispo de Kensington. "Muitas pessoas continuam de luto, ainda tentam se restabelecer. Procuram respostas, exigem justiça. Mas há algo de positivo, esta comunidade é extremamente resiliente".

No altar foram colocados grandes corações verdes, a cor usada para simbolizar a tragédia, com as palavras "Graça", "Humanidade", "Força" e "União".

Os nomes das 71 vítimas e do bebê natimorto após o incêndio foram lidos durante a missa, com a assembleia respondendo a cada vez: "Para sempre em nossos corações".

A celebração foi marcada por um minuto de silêncio ao meio-dia, igualmente observado no Parlamento britânico e até na Rússia, no local de treinamento da seleção da Inglaterra, que se prepara para a Copa do Mundo.

Após a cerimônia, pombas brancas foram soltas e uma procissão até a torre foi organizada. Outros eventos estão previstos para esta tarde, antes de uma passeata silenciosa às 19H00 (15H00 de Brasília).

"Todas as memórias retornam", testemunhou Jane Lanyero, membro de uma associação de apoio às vítimas. "Há esperança, mas também frustração.

Muito pouco foi feito pelas vítimas", ressaltou.

- Reação insuficiente -

O edifício havia sido construído em 1974 e passou por uma reforma entre 2014 e 2016, quando recebeu o revestimento que muitos interpretaram como uma tentativa de esconder um prédio feio no bairro de Kensington e Chelsea.

O material do revestimento nunca havia passado por testes de combate ao incêndio e não respeitavas as normas de segurança, de acordo com o relatório da perícia.

As autoridades não explicaram porque até hoje ninguém foi detido como resultado da investigação ou porque não foi proibido o revestimento exterior que contribuiu para a rápida propagação das chamas.

Além disso, as vítimas não entendem o que levou os bombeiros que chegaram ao local para combater o incêndio a solicitar que os moradores da Torre não deixassem os seus apartamentos, uma ordem que não foi retirada por duas horas.

"O fato é que nossos parentes são recordados agora porque foram abandonados à morte", escreveu no jornal The Guardian Karim Mussilhy, que perdeu o tio na tragédia.

Kerry O'Hara, sobrevivente, declarou à AFP: "Fico feliz por não ter seguido aquela ordem de permanecer no apartamento e odeio pensar no que teria acontecido se tivesse ficado".

A primeira-ministra Theresa May foi muito criticada, depois de visitar o local da tragédia e evitar o contato com as vítimas.

Também é criticada por não ter proibido o revestimento usado na Torre.

Na segunda-feira, ela pediu desculpas por ter se reunido apenas com as equipes de resgate na polêmica primeira visita a Grenfell, quando fumaça ainda saía do edifício.

"A reação não foi suficiente, desde o início, e isso é evidente", afirmou ao site Grenfell Speaks.

As homenagens começaram na quarta-feira à noite. Ao som de um alto-falante portátil, que tocava músicas marcadas pela melancolia, uma passeata silenciosa terminou na entrada da torre, exatamente às 00H54 local, quando começou o trágico incêndio.

.