A chegada constante e em massa de imigrantes à Europa, há vários anos, tornou-se o principal tema de debate em vários países do continente, uma discussão na qual o presidente Donald Trump se intromete e os governos tendem a endurecer a retórica.
Agora, o número de imigrantes que chegam pelo mar Mediterrâneo tende a baixar. Depois de alcançar um pico de mais de um milhão em 2015, o número caiu para cerca de 362.000 em 2016, 172.000 em 2017 e 37.000 desde o início de 2018.
Além do problema das novas chegadas, simbolizado pelo caso do navio humanitário "Aquarius", um dos principais pontos de atrito tem a ver com a distribuição dos imigrantes depois que estão na Europa. Boa parte da opinião pública é reticente quanto a recebê-los.
Veja abaixo o cenário dos principais envolvidos nesse debate:
- Alemanha -
A chanceler Angela Merkel abriu suas fronteiras em 2015 para receber mais de um milhão de migrantes, o que detonou uma dinâmica eleitoral favorável à extrema direita, hostil a essa imigração, alimentada por diferentes fatos sociais atribuídos aos imigrantes.
Reeleita em meio a uma grande tensão política, Merkel agora está sujeita a um governo de coalizão com seus aliados da CSU, hostis à imigração e que ameaçam derrubá-la se não endurecer sua política migratória.
Também está na mira de Donald Trump, que disse que os migrantes são responsáveis por um aumento geral do crime, desafiando os números oficiais que tendem a mostrar que a criminalidade diminuiu na Alemanha.
Uma pesquisa publicada na semana passada mostra que quase 90% dos alemães querem um endurecimento da política migratória.
- França -
País atraente para a imigração, a França também tem problemas com as chegadas de imigrantes que cruzam a fronteira italiana, a qual as autoridades tentam fechar, ilustrando a polêmica da distribuição da carga migratória entre os países europeus.
A opinião pública se posiciona majoritariamente contra a imigração ilegal: 56% dos franceses consideram que não se deveria permitir a entrada do navio "Aquarius" em portos do país. Cerca de metade de seus passageiros queria pedir asilo na França.
As autoridades francesas registraram mais de 100.000 pedidos de asilo no ano passado, o que significou um aumento de 17,5% em relação a 2016.
- Itália -
Principal porto de entrada de imigrantes que chegam pelo mar, a Itália está imersa no problema pelos acordos de Dublin. Estes preveem que o país europeu, onde o imigrante se registrar pela primeira vez, deve processar seu caso de pedido de residência até o final. Seu governo alega que isso transfere para o país a maior carga de ingresso.
Este ano, os italianos optaram nas urnas por uma coalizão de extrema direita e antissistema. Uma de suas primeiras decisões foi rejeitar a chegada a seus portos do navio "Aquarius", com mulheres grávidas, idosos e crianças viajando sozinhos.
A Itália registrou cerca de 700.000 imigrantes que desembarcaram em sua costa desde 2013. Desde 1º de janeiro deste ano, chegaram ao país 15.610 refugiados (-78%).
- Áustria -
O chanceler conservador Sebastian Kurz, que diz ter sido um dos principais artífices do fechamento da Rota dos Bálcãs no início de 2016, celebrou na terça-feira o debate na Alemanha entre Merkel e seus aliados.
A Áustria contou com um total de 200.665 pedidos de asilo entre 2013 e 2017, o que representa 2,3% da população desse pequeno país de 8,7 milhões de habitantes. Depois de um máximo de 88.160 em 2015, o número de pedidos anuais foi de 24.715 em 2017.
- Bélgica -
O país concedeu status de refugiados (ou condições similares) a cerca de 40.000 pessoas entre 2015 e 2017.
O governo endureceu sua política, especialmente sob o impulso de um secretário de Estado nacionalista flamengo, Theo Francken. Recentemente, ele se declarou contra qualquer imigração ilegal na UE, defendendo que se receba apenas os refugiados enviados de acampamentos da ONU em zonas de guerra.
- Espanha -
O governo do socialista Pedro Sánchez se propôs a receber o "Aquarius" e a processar seus pedidos de asilo. "Um grande gesto", cujo objetivo é "mobilizar" outros países europeus, enquanto a Espanha parece ser um dos poucos - e raros - países da Europa, onde a opinião pública não se distancia do tema migratório.
Este ano, mais de 9.300 imigrantes chegaram à costa da Espanha, terceiro ponto de entrada na Europa pelo mar, depois de Itália e Grécia. Essas chegadas foram mais do que o dobro no mesmo período em 2017.
- Países de Visegrado -
Os países do chamado grupo de Visegrado - Hungria, República Tcheca, Polônia e Eslováquia - se opõem a qualquer ideia de uma cota de imigrantes que a Europa tentou lhes impor durante dois anos, após a crise de 2015 (quando a UE recebeu mais de 1,26 milhão de pedidos de asilo). Esses ex-membros do bloco comunista não enfrentaram os mesmos fluxos migratórios que a Europa Ocidental.
- Suécia -
No final de 2015, a Suécia endureceu sua política de asilo, até então uma das mais generosas.
Entre 2015 e 2017, este país de menos de 10 milhões de habitantes, deu asilo a mais de 144.000 pessoas, principalmente da Síria.
Aqui também a imigração é um dos temas centrais da campanha pelas legislativas de 9 de setembro. A extrema direita anti-imigração conta com entre 18% a 20% das intenções de voto.