O chefe de gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, comparecia, nesta terça-feira (24) diante da comissão de investigação parlamentar que investiga a agressão a manifestantes de um chefe de segurança da Presidência, caso que mergulhou o governo em sua pior crise política.
Como já fizeram ontem o ministro do Interior e o chefe da Polícia de Paris, Patrick foi à Assembleia Nacional para tentar explicar quem autorizou Alexandre Benalla a assistir às operações policiais durante os protestos de 1º de maio e quem lhe forneceu o capacete e o bracelete da Polícia.
Também deverá prestar contas sobre a sanção inicialmente adotada contra este homem de confiança de Macron - 15 dias sem salário -, considerada muito leve pela oposição, assim como sobre as razões pelas quais não se informou a Justiça sobre a agressão, como determina a lei.
"É uma primeira etapa", declarou nesta terça Eric Coquerel, deputado do partido de esquerda radical França Insubmissa. Seu movimento também pede que o próprio Macron compareça a esta comissão.
Benalla, que foi filmado atacando dois manifestantes para dissipar um protesto em uma praça parisiense, disse na segunda-feira, por meio de seus advogados, que quis "ajudar a polícia" contra "dois indivíduos particularmente virulentos".
O assessor de segurança de Macron foi demitido e indiciado por violência em reunião e usurpação de funções na semana passada, depois que o jornal Le Monde divulgou o vídeo filmado por testemunhas que deflagrou o escândalo.
Três policiais também foram indiciados por terem entregue a Benalla imagens de câmeras de segurança, assim como um funcionário do partido presidencial A República em Marcha, que aparece no vídeo agredindo manifestantes.
- Eliseu na mira -
Na segunda-feira, na primeira audiência da comissão, o ministro do Interior, Bernard Collomb, e o chefe de Polícia de Paris, Michel Delpuech, defenderam seu trabalho e apontaram a responsabilidade do Palácio do Eliseu na gestão do caso.
A oposição acusa o governo de querer acobertar Benalla, descrito como um homem de confiança de Macron e um pilar de seu aparato de segurança da Presidência, ao não informar a Justiça sobre o possível crime cometido.
"Entendo que algumas pessoas se perguntem se a sanção tomada foi suficiente", reconheceu nesta terça o premiê Edouard Philippe, durante uma acalorada sessão de perguntas ao governo na Assembleia Nacional francesa.
"Uma república exemplar não é uma república perfeita", acrescentando, destacando, porém, que "nada foi ocultado".
"Estamos em uma Presidência das mentiras", denunciou o socialista Olivier Faure, enquanto a líder da extrema direita, Marine Le Pen, acusou o Eliseu de ter organizado uma "Polícia paralela" que age em paralelo ao Ministério do Interior.
Também surgiram interrogações sobre os privilégios de Benalla. Segundo a imprensa local, ele tinha credenciais de acesso à Assembleia Nacional, além de um apartamento de frente para o Sena reservado para o pessoal presidencial, assim como um carro com motorista.
- Macron afunda nas pesquisas -
Depois de Strzoda, o secretário-geral do Eliseu, Alexis Kohler, descrito como o braço direito do presidente, será interrogado nesta quinta-feira pelos senadores.
Nesta terça, durante a sessão de perguntas ao governo na Assembleia Nacional francesa, os deputados também tentarão esclarecer as dúvidas que persistem sobre o caso.
Os deputados do partido conservador Os Republicanos anunciaram que vão apresentar uma moção de censura ao governo. É pouco provável que siga adiante, porém, graças à considerável maioria obtida pelo partido do governo, o LREM, na Assembleia.
Essa crise política é a mais grave no governo Emmanuel Macron desde sua eleição em 2017.
A popularidade daquele que prometeu uma "presidência exemplar" despencou para 32%, seu nível mais baixo desde setembro de 2017, período das manifestações contra sua polêmica reforma trabalhista, segundo pesquisa Ipsos divulgada nesta terça.
"O problema não é a má conduta de Alexandre Benalla, mas a estrutura que fez ser possível", considerou o cientista político Bruno Cautrès.
Este caso "marcará um antes e um depois para Emmanuel Macron", avaliou o especialista do Centro de Pesquisa Política do centro universitário Science Po.
Apesar da crescente pressão, o presidente não se pronunciou diretamente sobre o escândalo e decidiu cancelar uma visita prevista para amanhã à etapa do Tour de France.
De acordo com um porta-voz do governo, Macron quer garantir que "não haverá impunidade para Benalla" e pediu que se faça uma "reorganização para evitar que se reproduza uma disfunção similar".
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