O teólogo brasileiro Leonardo Boff, expoente da Teologia da Libertação, pediu que as forças de repressão do governo da Nicarágua "parem de matar", em uma carta de apoio aos bispos desse país, duramente criticados pelo presidente de esquerda Daniel Ortega.
Os bispos da nação centro-americana mergulhada em uma crise fazem "uma justa crítica ao governo que está perseguindo, sequestrando e assassinando seus próprios compatriotas", afirma Boff em uma carta dirigida ao Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh).
"A Nicarágua necessita de diálogo, mas, antes de tudo, necessita de que as forças repressivas parem de matar, especialmente os jovens. Isso é inaceitável. A Nicarágua necessita de paz e de novo paz", acrescenta Boff em seu texto, datado de 21 de julho e enviado nesta terça-feira à AFP.
"Estou perplexo com o fato de que um governo que conduziu a libertação da Nicarágua possa imitar as práticas do antigo ditador", prossegue Boff de 79 anos, referindo-se a Anastasio Somoza Debayle, derrubado em 1979 pela Revolução Sandinista liderada por Ortega.
"O poder existe não para se impor a seu povo, e sim para servir a ele na justiça e na paz", enfatiza o teólogo, que dirige um centro de defesa dos direitos humanos na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro.
Ortega, confrontado a crise política resultante de protestos populares que em três meses deixaram 290 mortos, acusou na semana passada os bispos nicaraguenses de estarem comprometidos com a oposição em um golpe para tirá-lo do poder.
O Cenidh atribuiu essas acusações a "uma campanha de ódio e de mentiras" orquestrada pelo presidente Ortega com o objetivo de "desmantelar um diálogo nacional" mediado pelos bispos.
Em uma troca de e-mails com a AFP nesta terça, Boff complementou as considerações de sua carta.
"Tenho consciência de que neste conflito há interesses estrangeiros articulados com os nacionais que se opõem a governos ditos progressistas, especialmente os Estados Unidos, e que por isso mesmo a situação é ambígua", afirmou.
"Queremos a autonomia da Nicarágua, mas não a preço da violência contra o próprio povo", concluiu.
Boff, condenado ao silêncio pelo papa João Paulo II (1978-2005), se desligou do sacerdócio em 1992, mantendo-se ativo na defesa das liberdades civis e do meio ambiente.
Nos últimos anos, elogiou a postura a favor dos pobres adotada pelo papa Francisco.
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