O governo italiano declarou guerra à sociedade que administrava a rodovia do viaduto que desabou na terça-feira em Gênova, matando dezenas de pessoas.
Nesta quinta-feira (16), no local da tragédia, as gruas e escavadeiras continuavam retirando os escombros. "Seguimos buscando buracos dos quais possam sair pessoas, vivas ou não", declarou Emanuele Gissi, um responsável do Corpo de Bombeiros.
O balanço de vítimas não mudou durante o dia: 38 mortos e 15 feridos, cinco deles gravemente.
Durante o dia, alguns dos 630 habitantes dos edifícios evacuados foram recolher os pertences de suas casas, escoltados pelos bombeiros. Essas casas, situadas debaixo do viaduto, foram desalojadas até novo aviso, cal reconhecer os corpos e ir ao enterro.
O mesmo estabelecimento acolhe também familiares de vítimas, que foram ao local para reconhecer os corpos e participar dos funerais.
Na área do desabamento, o trabalho de busca "é perigoso porque os escombros são instáveis", assim como a parte do viaduto que ainda de pé, explicou Emanuele Gissi.
"O que é certo é que aqueles que estão buscando nos dizem que ainda há outras pessoas ali embaixo", afirmou Matteo Salvini, ministro do Interior e líder da ultradireitista Liga.
- Partidas de futebol adiadas -
O país observará no sábado um dia de luto nacional pelos funerais solenes na Feira de Gênova.
E sobre a nova temporada da liga italiana de futebol, que começará neste final de semana, decidiu adiar as disputas previstas para domingo dos dois times de Gênova, Sampdoria e Gênova. Nas demais partidas, os jogadores usarão uma braçadeira preta.
Na Itália crescia o incômodo por conta da catástrofe e das falhas estruturais do viaduto Morandi, construído na década de 1960, que veio abaixo provocando a queda de blocos de concreto, carros e caminhões.
O governo anunciou a sua intenção de revogar o contrato de concessão da empresa Autostrade no trecho onde está o viaduto desabado. Vários ministros exigiram, inclusive, que todas as suas concessões sejam revisadas.
A empresa "Autostrade per l'Italia", que pertence ao grupo Atlantia, controlado pela família Benetton, reagiu nesta quinta destacando a seriedade de seus controles de segurança.
A companhia assegurou que trabalha "com afinco" na reconstrução do viaduto, uma obra que deve acabar "em cinco meses".
O Atlantia criticou o fato de o governo fazer anúncios "na ausência de qualquer certeza sobre as causas efetivas" do ocorrido, e avisou que a revogação de suas concessões poderia custar importantes indenizações ao Estado. Segundo vários meios de comunicação italianos, o Estado poderia se ver obrigado a pagar milhões de euros de compensação.
As declarações do Atlantia não impediram a queda em 22% de sua ação na Bolsa de Milão nesta quinta-feira.
Enquanto a investigação judicial segue em frente, o ministério de Infraestruturas anunciou a criação de uma comissão de inspeção encarregada de entregar um relatório em um prazo de 30 dias sobre as causas da catástrofe.
- Gratuidade para as ambulâncias -
Por conta das duras críticas do governo, a Autostrade indicou à tarde que as ambulâncias deixariam de pagar os pedágios nos cerca de 6.000 quilômetros de rodovia que administra na Itália.
"Se eu fosse um dirigente da 'Autostrade per l'Italia', teria suspendido alguns pedágios, mas na hora seguinte" ao drama, havia se indignado Salvini horas antes.
O governo italiano também encontrou outro culpado pelo caso: a União Europeia e a sua política de austeridade, acusada de impedir os investimentos.
"Os investimentos que salvam vidas, empregos e o direito à saúde não devem ser objeto de cálculos rígidos e regras impostas pela Europa", declarou Salvini.
A Comissão Europeia assegurou que havia estimulado a Itália a investir em suas infraestruturas e recordou que os Estados-membros têm liberdade para "fixar prioridades políticas específicas como, por exemplo, o desenvolvimento e a manutenção das infraestruturas".