Ao menos 13 civis, incluindo seis crianças, morreram nesta terça-feira (4) em ataques aéreos realizados pela aviação russa na província de Idlib, último reduto rebelde do noroeste da Síria, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
"Os aviões russos bombardearam novamente a província de Idlib depois de uma pausa de 22 dias", indicou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Segundo a organização, os ataques visaram 24 zonas, matando ao menos 13 civis, incluindo seis crianças, e deixando 30 feridos, em balanço atualizado.
Aviões de guerra seguiam sobrevoando a região na parte da tarde, constatou um correspondente da AFP no terreno.
Também nesta terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, declarou que as Forças Armadas sírias "se dispõem a resolver" o problema do "terrorismo" na província de Idlib.
"A situação em Idlib continua preocupando Moscou, Damasco, Ancara e Teerã", declarou Peskov à imprensa dois dias antes de uma cúpula tripartite entre Rússia, Turquia e Irã sobre a Síria.
"Formou-se um núcleo de terrorismo e isso desestabiliza a situação", destacou.
"Mina os esforços para alcançar uma solução político-diplomática" na Síria e, "principalmente, constitui uma ameaça importante para nossas bases" militares na Síria, acrescentou.
Segundo Moscou, dessa zona são pilotados dezenas de drones que ameaçam a base aérea russa de Hmeimim.
"Sabemos que as Forças Armadas sírias se dispõem a resolver esse problema", acrescentou.
Peskov não quis comentar as informações, segundo as quais aviões de guerra russos bombardearam Idlib nesta terça. O Ministério russo da Defesa também não se pronunciou.
De acordo com o OSDH, os bombardeios russos em Idlib "acontecem um dia depois dos ataques rebeldes contra posições das forças do regime na província vizinha de Latakia que deixaram três mortos".
A província costeira de Latakia é um dos principais redutos do regime sírio, e região de origem da família do presidente Bashar al-Assad.
A aviação russa bombardeou os setores sul e sudoeste da província, segundo o OSDH, que cita o setor de Jisr al-Shughur, controlado pelos jihadistas da Hayat Tahrir al-Sham (ex-militantes da Al-Qaeda), e Ariha, controlado pelos rebeldes.
O regime de Bashar al-Assad vem concentrando tropas há mais de um mês nos limites de Idlib em preparação a uma importante ofensiva.
Os bombardeios nessa região começaram em 10 de agosto e foram diminuindo.
Em outra frente, Israel atacou nesta terça-feira com mísseis posições militares iranianas em Banias e Wadi al-Uyun, segundo o OSDH.
Em Wadi al-Uyun, o ataque matou três militares sírios e feriu outras 23 pessoas, sendo 14 sírios e nove iranianos, de acordo com o OSDH.
- Apelo da ONU e pressão dos EUA -
Idlib é a última região síria que Damasco não controla. Cerca de 60% da província está dominada pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), e também há múltiplas milícias rebeldes.
Na segunda-feira, o presidente americano, Donald Trump, advertiu Síria, Rússia e Irã sobre uma ofensiva em Idlib, estimando que uma operação nessa região poderia provocar "uma tragédia humana".
Nesta terça, os Estados Unidos alertaram que responderão "rápida e apropriadamente" se a Síria usar armas químicas contra o seu povo.
"Sejamos claros: se mantém a nossa posição de que se o presidente Bashar al-Assad optar por usar armas químicas novamente, os Estados Unidos e seus aliados responderão rápida e apropriadamente", disse Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, em um comunicado.
Segundo a ONU, uma ofensiva na região poderia fazer com que 800.000 pessoas abandonem suas casas, e provocar "uma catástrofe humanitária".
Nesta terça, o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, pediu aos presidentes russo, Vladimir Putin, e turco, Recep Tayyip Erdogan, que conversem urgentemente para evitar um banho de sangue em Idlib.
"Um telefonema entre vocês dois (Putin e Erdogan) faria a diferença", afirmou à imprensa em Genebra, indicando que este contato deveria acontecer antes de 7 de setembro.
O chefe do grupo humanitário da ONU para a Síria, Jan Egeland, declarou que "estamos prontos para a guerra, mas rezamos para que não haja guerra".
Os Estados Unidos, que ocupam a presidência interina do Conselho de Segurança em setembro, organizarão uma reunião nesta sexta sobre a situação na província rebelde, anunciou a embaixadora dos EUA na ONU.
A questão de Idlib "é séria", disse Nikki Haley em uma coletiva de imprensa, afirmando que a maioria dos membros da ONU concordou com a reunião.
O conflito na Síria, que teve início em 2011, já deixou mais de 350.000 mortos e milhões de deslocados.