Ao menos 20 pessoas morreram, incluindo dois jornalistas afegãos, e 70 ficaram feridas nesta quarta-feira (5) em um duplo atentado contra um clube esportivo em um bairro xiita de Cabul, indicaram as autoridades afegãs.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou este duplo atentado por meio da sua agência de propaganda da organização, Amaq.
Os talibãs negaram anteriormente qualquer envolvimento em uma mensagem de seu porta-voz, Zabiullah Mudjahid, pelo aplicativo de mensagens WhatsApp.
A primeira explosão aconteceu às 18h00 locais (10h30 de Brasília), no bairro xiita de Dashti Barshy, no oeste da capital, segundo o porta-voz do Ministério do Interior, Najib Danish.
"Segundo as nossas informações, a explosão foi executada por um suicida", indicou à AFP o porta-voz da polícia, Hashmat Stanikzai. O agressor explodiu a sua carga dentro do clube esportivo Maiwand Club, onde atletas de luta estavam treinando.
O responsável do clube esportivo, Pahlawan Shir, indicou à AFP que o agressor "matou os guardas na entrada do clube esportivo antes de ativar a sua carga".
Uma hora depois do primeiro ataque, um carro carregado com explosivos detonou perto da cena onde se encontravam os jornalistas e as forças de segurança.
"A segunda explosão aconteceu na entrada do Maiwand Club", detalhou o porta-voz do Ministério do Interior, Danish.
Naquele momento, "havia forças de segurança, pessoas e jornalistas" no local, indicou Stanikzai. Segundo ele, "morreram jornalistas e outros ficaram feridos".
A rede de televisão afegã ToloNews confirmou a morte de dois de seus jornalistas: um repórter, Samim Faramarz, de 28 anos, e um cinegrafista, Ramiz Ahmadi, de 23 anos. De acordo com um centro de apoio à mídia afegã, outros quatro jornalistas ficaram feridos.
"Samim e Ramiz eram grandes jornalistas, dedicados ao futuro do país. Tinham grandes sonhos para o futuro", disse Lotfullah Najafizada, diretor da ToloNews, em um comunicado.
"Representavam o que há de melhor no Afeganistão. Eram jovens, corajosos e atentos. Desafiavam e superavam fronteiras para informar milhões de afegãos todos os dias", declarou Saad Mohseni, presidente e diretor-geral do grupo MOBY, proprietário da ToloNews.
Em comunicado, o presidente afegão, Ashraf Ghani, condenou "com a maior firmeza esses ataques terroristas".
- 13 jornalistas mortos -
Treze jornalistas morreram no exercício de sua profissão desde o começo do ano no Afeganistão.
O último atentado contra a comunidade xiita em Cabul aconteceu em 15 de agosto em um centro de preparação para os exames de acesso à universidade, no qual 37 pessoas morreram. O grupo EI reivindicou o ataque.
O atentado desta quarta ocorre no dia seguinte de os talibãs anunciarem a morte de Jalaluddin Haqqani, fundador da rede insurgente de mesmo nome, aliado dos talibãs e acusado nos últimos anos de muitos ataques suicidas que deixaram centenas de vítimas civis no Afeganistão.
Segundo os talibãs, Haqqani morreu depois de uma longa doença. A rede de insurgentes é dirigida há vários anos por seu filho Sirajudin. Analistas e diplomatas acreditam que sua morte não terá muito impacto nas atividades da rede e que os ataques continuarão.
Nesta quarta-feira, a polícia havia detido 11 membros da rede Haqqani que tinham explosivos e planejavam cometer um atentado, segundo os serviços de Inteligência afegãos.
O duplo atentado desta quarta acontece no momento em que os Estados Unidos anunciam a nomeação do diplomata de origem afegã, Zalmay Jalilzad, que lidera os esforços americanos para restabelecer a paz no Afeganistão.
Figura da diplomacia americana e do lado neoconservador do presidente George W. Bush, Zalmay Jalilzad foi embaixador em Cabul, Bagdá e na ONU.
Os Estados Unidos, envolvidos na guerra do Afeganistão há 17 anos, intensificaram seus esforços diplomáticos nos últimos meses para conseguir que os talibãs negociem.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, fez uma breve visita ao Paquistão nesta quarta para tentar reativar as relações diplomáticas e tentar convencer Islamabad a participar dos esforços de paz no Afeganistão, nos quais Washington considera que pode desempenhar um papel-chave.
.