O presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou os separatistas árabes neste domingo (23), sem citá-los diretamente, de estarem por trás do atentado que deixou pelo menos 24 mortos em uma parada militar no sábado em Ahvaz, sudoeste do Irã.
Inicialmente em 29 mortos, o balanço de vítimas foi revisto, informou a agência Isna.
"O número de mártires no ataque terrorista de Ahvaz é de 24 pessoas", anunciou a Isna, citando o governador da cidade de Ahvaz, Jamal Alami Neysi.
Segundo a Isna, Alami Neysi afirmou que houve "um erro" nas contagens anteriores. Também citando o governador, a agência de notícias Mehr, mencionou "60 feridos".
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria do atentado de Ahvaz, capital da província de Juzestão, de maioria árabe, mas parece que as autoridades iranianas não estão levando a declaração a sério.
"Não temos nenhuma dúvida sobre a identidade daqueles que fizeram isso, sobre seu grupo e sua afiliação", declarou Rohani à televisão estatal antes de partir para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da ONU.
Durante a guerra entre Irã e Iraque (1980-1988), "aqueles que causaram esta catástrofe [de sábado] (...) apoiaram os agressores e cometeram crimes", acrescentou Rohani.
"Quando [o ditador iraquiano] Saddam [Hussein) estava vivo, eles eram seus mercenários. Depois, mudaram de amo, e um dos países do sul do Golfo Pérsico se encarregou de apoiá-los", acrescentou o presidente iraniano, sem dar nomes.
"Todos esses pequenos países mercenários que vemos na região estão apoiados pelos Estados Unidos. São estimulados pelos americanos", disse Rohani.
Em meio às tensões, o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abas Araghchi, anunciou em sua conta no Instagram que o encarregado de negócios dos Emirados Árabes Unidos em Teerã seria convocado neste domingo, devido às declarações de "autoridades desse país" sobre este ataque.
Já os Guardiães da Revolução, o Exército ideológico da República Islâmica, publicaram neste domingo um comunicado anunciando uma "vingança inesquecível" em um futuro próximo.
- Reações
No sábado, o Ministério iraniano das Relações Exteriores anunciou que convocou três diplomatas europeus, representantes de Dinamarca, Reino Unido e Holanda, após o atentado.
Os embaixadores dinamarquês e holandês e o encarregado de negócios britânico foram cúmplices "dos fortes protestos do Irã diante do fato de seus respectivos países abrigarem alguns membros do grupo terrorista que cometeu o ataque terrorista", afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, citado pela agência Irna.
"Não é aceitável que a União Europeia não inclua em sua lista negra os membros desses grupos terroristas, enquanto não cometerem um crime em solo europeu", lamentou a diplomacia iraniana.
"Se forem estabelecidos vínculos com a Dinamarca, isso terá consequências, evidentemente", declarou o chanceler dinamarquês, Anders Samuelsen, na televisão pública.
A Chancelaria holandesa disse à AFP que "ouviu a versão do Irã e apresentou [suas] condolências pelo atentado".
De Londres, um porta-voz do Foreign Office afirmou que se registrou a "preocupação" do Irã e também foram apresentadas suas "condolências".
Neste domingo, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, ressaltou que Washington "condenam qualquer ataque terrorista, seja onde for. Ponto".
"Creio que o povo iraniano já teve o suficiente, e é daí que isso vem", acrescentou a embaixadora em entrevista à rede americana CNN.
Outras autoridades iranianas acusaram a Arábia Saudita e "dois Estados [árabes] do Golfo" de terem armado, ou financiado, o comando.
No sábado, a emissora de televisão por satélite Iran International divulgou uma nota em nome da "Frente Popular e Democrática dos Árabes de Ahvaz".
Em um comunicado publicado em sua página on-line, este grupo negou qualquer envolvimento e acusou o governo de ter ordenado o ataque para desviar a atenção do apoio dado "às milícias na região".
Cometido com um fuzil AK-47, o ataque de sábado deixou 24 mortos e cerca de 60 feridos e foi um dos mais letais no país em quase oito anos.