O candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro ganhou com uma margem ampla o primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil, mas disputará o segundo turno com Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), em 28 de outubro.
Após a apuração de quase a totalidade das urnas, Bolsonaro, de 63 anos, tinha 46,9% dos votos contra 29,20% para Haddad, o indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro apostava em vencer as eleições no primeiro turno e depois de divulgados os resultados parciais, ele afirmou, em transmissão em sua página no Facebook, que "problemas" com as urnas eletrônicas o teriam impedido de se eleger presidente no primeiro turno.
"Se esse problema não tivesse ocorrido, se tivesse confiança no sistema eletrônico, já teríamos o nome do novo presidente", disse Bolsonaro, sem denunciar explicitamente uma fraude.
Uma semana antes das eleições, o candidato do PSL já tinha provocado polêmica em uma entrevista, ao afirmar que não aceitaria um resultado diferente de sua eleição, mas depois acabou se retratando.
Bolsonaro, que se recupera de um atentado a faca sofrido durante um comício em Juiz de Fora (MG), no mês passado, convocou seus partidários a se manter mobilizados.
- Alívio no PT -
Em um hotel no centro de São Paulo, onde Fernando Haddad falou à imprensa, houve gritos de alegria e alívio com a divulgação dos resultados.
Haddad prometeu um país "profundamente democrático" se vencer no segundo turno e agradeceu a liderança de seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem irá visitar como faz todas as segundas-feiras em Curitiba, onde o ex-presidente está preso.
"Queremos unir os democráticos deste país. Queremos um projeto amplo para esse país, que busque de forma incansável a justiça social", disse Haddad, de 55 anos.
Após a notícia da possibilidade de um segundo turno, sua equipe de campanha passou do silêncio à alegria no hotel paulista onde o candidato discursou.
O petista começou imediatamente a estender pontes a outros candidatos, sabendo que só uma série de alianças pode lhe dar a vitória.
A chave para Haddad reduzir a vantagem de Bolsonaro está em Ciro Gomes (PDT), que foi ministro da Integração Nacional de Lula e obteve mais de 12,58% dos votos.
Em declarações à imprensa, Ciro disse que discutiria com os líderes do PDT a posição do partido no segundo turno, mas antecipou um possível apoio a Haddad, ao declarar que irá fazer o que fez toda a vida: lutar pela democracia e contra o fascismo, declarou.
- Da alegria à preocupação -
No bar do hotel Windsor, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, onde a equipe de campanha de Bolsonaro falou, o otimismo dominante durante o dia deu lugar à preocupação.
As próximas três semanas vão pôr à prova a resistência do candidato, que quase morreu após o atentado sofrido em 6 de setembro.
Também o coloca na obrigação de conquistar aliados, apesar da alta rejeição pelas propostas de armar a população para combater a violência, além de suas declarações misóginas, homofóbicas e racistas, bem como a justificativa que faz da tortura durante a ditadura.
"Apoio Bolsonaro porque nosso país precisa de um choque de ordem e é o único homem capaz de fazer isso pelo Brasil", disse à AFP Lourdes Azevedo, de 77 anos, pedagoga aposentada.
O resultado "é um pouco decepcionante, a gente esperava ganhar no primeiro turno. Agora fica mais difícil, o segundo turno é um risco", avaliou.
Embora tenham sido os mais bem colocados no primeiro turno, Bolsonaro e Haddad são, ao mesmo tempo, os candidatos com maiores índices de rejeição.
Ex-prefeito de São Paulo pouco conhecido em outras regiões, Haddad tentou se identificar com Lula e, assim, pôde herdar metade do eleitorado de seu mentor, sobretudo entre a população pobre, que melhorou suas condições de vida sob seus mandatos (2003-2010).
Mas também herdou o ódio que o ex-presidente inspira naqueles que condenam pelos escândalos de corrupção, revelados pela Operação Lava Jato e pela crise econômica em que mergulhou o país sob o mandato de sua herdeira política, Dilma Rousseff, deposta em 2016 pelo Congresso.
- O centro e as alianças -
Durante a campanha, Haddad "se esqueceu muito do centro, que é fundamental. Sem o centro não se ganha uma eleição e menos ainda se governa, então precisa desse apoio já. São três semanas, uma campanha curtíssima, e mais ainda tem que pensar na governabilidade, estabelecendo compromissos com esses setores", disse André César, da consultora Hold em Brasília.
Na última semana, Bolsonaro recebeu apoio de setores poderosos, como os ruralistas e as igrejas evangélicas.
Mas precisa lidar com um histórico de declarações racistas, misóginas e homofóbicas e com suas justificativas da tortura durante a ditadura militar (1964-1985), que lhe renderam uma ampla rejeição entre as mulheres e as minorias.
Em seu último vídeo no Facebook antes das eleições, o candidato prometeu governar "inclusive" para ateus e gays.
"Vamos fazer um governo para todos, independentemente da religião, até para quem é ateu. Vamos fazer um governo para todo mundo, para os gays, inclusive, porque tem gay que é pai, que é mãe", publicou.