A ONU começará a enviar ajuda humanitária à Venezuela, numa tentativas de estabilizar o fluxo de refugiados que deixam o país. O anúncio foi feito depois do sinal verde dado pelo governo de Nicolás Maduro, que até então recusava qualquer ajuda internacional temendo que ela servisse de pretexto para uma intervenção militar no país.
Segundo a ONU, até o mês passado, Caracas rejeitava o termo "emergência humanitária" e, portanto, não permitia a atuação de agências internacionais. Após mudança de posição de Maduro, o jornal O Estado de S. Paulo apurou que um pacote inicial de US$ 9,2 milhões (cerca de R$ 35 milhões) será liberado. O dinheiro ficará sob o controle de agências internacionais. A informação sobre a mudança de posição do governo venezuelano foi antecipada nesta segunda-feira, 26, pelo portal do Estadão.
A crise na Venezuela resultou no êxodo de 3 milhões de pessoas, no que é considerado o maior fluxo migratório na história recente da América Latina. Apenas em 2018, mais de 205 mil venezuelanos solicitaram refúgio e centenas de milhares cruzam fronteiras como imigrantes.
A ONU acredita que o fluxo aumentará nos próximos meses e apenas uma melhora real das condições de saúde e de alimentação interromperá o fluxo. Na próxima semana, a crise venezuelana entrará pela primeira vez na lista dos programas humanitários divulgados pela ONU. A entidade lançará um apelo global para crises em Iêmen, Síria, Líbia e outros países, entre eles a Venezuela.
Aprovados nesta semana, US$ 2,6 milhões serão destinados à Unicef para a "recuperação nutricional de crianças com menos de 5 anos, mulheres grávidas ou que estejam amamentando". Oito Estados venezuelanos serão atendidos.
Um outro montante, de US$ 1,7 milhão, será destinado ao atendimento de mulheres e meninas, principalmente nos Estados de fronteira com Colômbia e Brasil. A maior parcela do dinheiro irá para a Organização Mundial da Saúde (OMS). A agência terá US$ 3,6 milhões para gastar no fortalecimento de hospitais, ajudar a pagar salários e comprar remédios.
Segundo uma fonte ouvida pelo jornal, as agências internacionais estavam lidando apenas "com os sintomas da crise". Até o momento, elas atuavam apenas fora dos limites do país - 40 entidades têm atendido a população que deixou a Venezuela.
Na ONU, fontes acreditam que este primeiro passo da ajuda humanitária marque o início de um processo que permitirá uma presença maior da entidade no país. Jorge Arreaza, chanceler venezuelano, durante visita recente a Genebra, indicou que o país não vivia uma "emergência humanitária", que "todos tinham acesso a saúde" e garantiu que a crise era "manobrada" pelos americanos, em busca de fazer Maduro renunciar.
A Organização Pan-americana de Saúde (Opas) denunciou que um de cada três médicos venezuelanos já deixaram o país e informou o aumento nos casos de aids, malária, tuberculose, sarampo, difteria e de outras doenças.
Em 2014, por exemplo, existiam registrados 66,1 mil médicos na Venezuela. Em 2018, 22 mil foram embora. Segundo a Opas, em mortalidade infantil, o país regrediu 40 anos. Os índices de 2017 são equivalentes ao que se registrava na Venezuela em 1977. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.