Ao receber o Prêmio Nobel da Paz nesta segunda (10), a yazidi Nadia Murad, uma ex-escrava do Estado Islâmico (EI), pediu à comunidade internacional que proteja seu povo e trabalhe pela libertação de milhares de mulheres e crianças que continuam nas mãos dos extremistas.
"Se a comunidade internacional deseja realmente ajudar as vítimas desse genocídio (...) deve lhes garantir uma proteção internacional", declarou esta jovem de 25 anos em seu discurso de agradecimento, pronunciado em curdo na prefeitura de Oslo.
Assim como milhares de mulheres yazidis, Nadia Murad foi sequestrada, violentada e torturada pelos jihadistas após a ofensiva do EI contra esta comunidade do norte do Iraque, em 2014.
Nadia conseguiu fugir de seus sequestradores e, hoje, luta pelas mulheres e crianças - mais de três mil, segundo ela - ainda mantidos em cativeiro.
"É inconcebível que a consciência dos dirigentes de 195 países não se tenha mobilizado para libertar essas mulheres", frisou.
"Se tivesse se tratado de um acordo comercial, de uma jazida de petróleo, ou de um carregamento de armas, aposto que não se teria poupado esforços para liberá-las", afirmou.
A jovem yazidi recebeu o Nobel da Paz junto com o médico congolês Denis Mukwege por "seus esforços, visando a pôr fim ao uso da violência sexual como arma de guerra".
Mukwege pediu, por sua vez, que o mundo não ignore mais as vítimas de violência sexual em tempos de conflito, considerando que a única guerra que vale é a "guerra contra a indiferença".
"Não são apenas os autores de violência que são responsáveis por seus crimes, mas também os que escolhem fechar os olhos", afirmou o ginecologista, de 63, após receber o Nobel.
"Se há uma guerra necessária é a guerra contra a indiferença que corrói nossas sociedades hoje", declarou.