Quando um forte terremoto abalou o Nepal em 2015, Phudoma Sherpa correu como nunca, não tanto pelo sismo, mas pelo medo de uma ruptura no lago glacial localizado no topo de sua cidade.
Com a mudança climática, o descongelamento das geleiras deste país do Himalaia provoca a formação de cada vez mais lagos glaciais. Para os cientistas, estas retenções de água são uma potencial bomba-relógio, pois se as margens se romperem, estas massas de líquido podem descer rapidamente pelas montanhas e provocar devastadoras inundações.
O risco é ainda maior porque o Nepal se situa sobre uma falha tectônica. Há três anos, um terremoto de 7,8 graus de magnitude deixou mais de 9.000 mortos.
A localidade montanhosa de Surke, onde vive Phudoma Sherpa, fica na parte baixa do lago glacial Imja, que se formou apenas 10 km ao sul do Everest.
No início da década de 1980, o pequeno lago ao pé da geleira de Imja, a 5.000 metros de altitude, não tinha nada de especial. Mas em 2014 seu tamanho havia quase triplicado e ele estava contido apenas por uma parede natural de detritos conhecida como morena, que os especialistas acreditam que não poderá reter as águas durante muito mais tempo.
Mais de 12.000 pessoas vivem nos 50 km rio abaixo desta grande massa de água, que em caso de um esvaziamento poderia liberar torrentes capazes de alcançar as planícies do sul do país, segundo os especialistas.
"Tínhamos medo de que um sismo provocasse um transbordamento do lago. Todos corremos para nos proteger", recorda em entrevista à AFP Phudoma Sherpa, de 46 anos, ao evocar o fatídico dia em abril de 2015 em que a terra tremeu.
Embora o lago tenha permanecido intacto, o alerta lembrou a espada de Dâmocles que estas formações líquidas representam para as populações humanas.
Um informe de 2014 da organização International Centre for Integrated Mountain Development (ICIMOD) registrou 1.466 lagos glaciais no Nepal, 21 deles potencialmente perigosos.
Os especialistas consideram que atualmente há mais de 2.000, apesar da fusão de alguns destes pequenos lagos em outros maiores e potencialmente instáveis.
- "Nos sentimos mais seguros" -
O aumento das temperaturas amplifica o fenômeno, ao acentuar o degelo das geleiras. Segundo outro estudo da ICIMOD, o Nepal perdeu quase um quarto de suas geleiras entre 1997 e 2010.
Neste contexto, "o risco [de catástrofes] aumenta, já que os vales estão cada vez mais povoados, o desenvolvimento de infraestruturas se torna mais rápido e se instalam projetos de hidroeletricidade em muitas margens dos vales", aponta Arun Bhakta Shrestha, especialista em mudança climática da ICIMOD.
Há dois anos, os habitantes da região do lago Imja ficaram aliviados quando as autoridades reduziram em 3,4 metros o nível de suas águas e instalaram um sistema de alerta. "Antes havia um sentimento de medo mas agora nos sentimos muito mais seguros", afirma Phudoma Sherpa.
"Agora há um canal, de modo que toda a água que se acumula é drenada. Assim se reduz o risco", explica Deepak KC, especialista do Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento, que acompanhou as obras.
Imja é o segundo lago glacial que se esvazia dessa forma. No ano 2000, o Nepal baixou o nível do Tsho Rolpa, que havia adquirido proporções ameaçadoras no nordeste do país.
Mas estas drenagens em altura são difíceis e caras para esta nação pobre. Embora o Nepal emita apenas 0,025% dos gases de efeito estufa, é um dos países mais vulneráveis e mais afetados pela mudança climática.
"Como somos um país pequeno, não podemos fazer muito por nossas geleiras. Mas devemos fazer o possível para nos adaptarmos e para proteger nossas populações", constata Rishi Ram Sharma, diretor-geral do departamento nacional de hidrologia e meteorologia.