Na realidade, o Japão nunca interrompeu completamente a caça às baleias, utilizando um cláusula da moratória de 1986 que autoriza a captura destes animais para pesquisa.
Agora, retomará a caça publicamente com fins comerciais, como já fazem Islândia e Noruega.
As críticas não demoraram a chegar: o governo australiano afirmou que está "extremamente decepcionado" e pediu ao Japão que reconsidere sua posição.
O ministro neozelandês das Relações Exteriores, Winston Peters, enviou uma mensagem similar a Tóquio e criticou uma "prática antiquada e inútil".
O Japão não vai caçar em "águas da Antártica, ou no hemisfério Sul", alegou Yoshihide Suga, representante do governo para o tema.
"A caça estará limitada às águas territoriais e à zona econômica exclusiva do Japão, de acordo com as cotas de capturas calculadas segundo o método da CBI para não esgotar os recursos", disse.
O governo prevê que a saída da CBI se torne efetiva no dia 30 de junho.
- "O caminho a seguir" -
Suga justificou a decisão pela "ausência de concessões por parte dos países unicamente comprometidos com a proteção das baleias, apesar dos elementos científicos que confirmam a abundância de certas espécies de baleias".
Uma divergência evidente foi registrada na última reunião da CBI, em setembro, recordou o representante do governo.
Na ocasião, a entidade rejeitou o texto apresentado pelo Japão, com o título "O caminho a seguir".
A ideia de Tóquio era aplicar uma via dupla dentro da CBI, uma organização com 89 países-membros, para incluir a preservação e a caça comercial das baleias. Esta última teria sido administrada por um "comitê sustentável de caça às baleias".
A proposta teria acabado com a moratória imposta a esta atividade em 1986, da qual o Japão é signatário.
Os países defensores das baleias, como Austrália, União Europeia e Estados Unidos à frente, rejeitaram o texto nipônico, com 41 votos contra 27, o que levou o Japão a abandonar a CBI.
"Uma retirada não é a melhor opção, mas é preferível para alcançar nosso objetivo principal, que é retomar a pesca comercial", destacou o diretor da Agência de Pesca, Hideki Moronuki.
- "Nação pirata" -
O governo nipônico abre assim uma nova frente de batalha entre os críticos e os defensores da caça dos cetáceos, a qual os japoneses, especialmente os mais nacionalistas, consideram uma importante tradição nipônica.
Vários membros do Partido Liberal Democrata (PLD), partido conservador do primeiro-ministro Shinzo Abe, defendem "a riqueza desta cultura", segundo as palavras de Suga.
"Esperamos que esta decisão permita transmiti-la à próxima geração", destacou.
As organizações ecológicas reagiram e criticaram a decisão.
"Está claro que o governo tenta fazer o anúncio de forma discreta, no fim do ano, longe do foco da imprensa internacional, mas o mundo não é bobo", comentou o diretor da unidade japonesa do Greenpeace, Sam Annesley.
"A decisão do Japão está completamente defasada em relação à comunidade internacional e ignora a necessidade de proteger nossos oceanos e estas criaturas majestosas", completou.
A associação americana Humane Society International (HSI) lamentou que o Japão se transforme em uma "nação pirata" de caça às baleias.
A ONG Sea Shepherd considerou, paradoxalmente, que a decisão do Japão era "uma boa notícia para as baleias".
Segundo a organização, que costuma denunciar os baleeiros japoneses, o Japão vai parar de caçar na zona protegida do Oceano Antártico sob um pretexto científico e sua retirada da CIB permitirá que este organismo estabeleça uma nova zona protegida no Atlântico Sul.
"Alegramo-nos de que acabe a caça de baleias na zona protegida do Oceano Antártico", afirmou Paul Watson, fundador desta ONG, em um comunicado.
O Japão - indicou a HSI - é o maior contribuinte financeiro da Comissão Baleeira, que precisará substituir a parte de Tóquio em seus recursos.
Na última temporada, os pescadores nipônicos mataram quase 600 baleias a título de expedições científicas, na Antártica e no Pacífico. Apesar desta razão oficial, a carne do cetáceo costuma parar nos balcões das peixarias.
Atualmente, porém, a maioria dos japoneses diz não consumir carne de baleia, ou fazê-lo apenas em raras ocasiões.