O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu nesta quinta-feira a estabilidade nos Bálcãs que, segundo ele, são ameaçados pelos ocidentais, durante visita à Sérvia, seu principal aliado na região.
Ele foi recebido como um "superstar" no país, onde bares levam seu nome, camisetas e xícaras ostentam sua silhueta e paredes são pintadas com seu rosto.
"Bem-vindo, querido presidente Putin, querido amigo", dizem os cartazes instalados na estrada que liga o aeroporto ao palácio presidencial sérvio.
As autoridades sérvias também enviaram três caças Mig-29 para escoltar o avião do presidente russo no espaço aéreo do país.
Dezenas de milhares de sérvios participaram de uma passeata de boas-vindas, que saiu do centro de Belgrado às 15h00, pouco antes da coletiva de imprensa conjunta de Putin e seu colega sérvio Aleksandar Vucic, que recebeu seu convidado no aeroporto.
A passeata terminou na Igreja de São Sava, um dos maiores locais de culto ortodoxo do mundo, cuja reforma foi financiada em parte pelo gigante russo Gazprom e onde Putin foi aclamado.
Durante a coletiva, sobre o Kosovo, o presidente russo explicou que para "alcançar uma estabilidade na região é preciso encontrar compromissos e respeitá-los".
Nesta questão ainda delicada vinte anos após o fim da guerra entre as forças sérvias e os rebeldes separatistas albano-kosovares (1998-1999, mais de 13.000 mortos), Moscou é o principal apoio de Belgrado, que não reconhece a independência proclamada em 2008 por sua ex-província.
O presidente sérvio expressou a sua intenção de encontrar um acordo final de normalização das relações com Pristina.
"Devido ao seu peso no Conselho de Segurança da ONU, está claro que não há solução sem Rússia", ressaltou Vucic, enquanto as discussões apadrinhadas pela União Europeia estão paralisadas.
"Tanto a Rússia como a Sérvia têm interesse que a situação nos Bálcãs seja estável e não perigosa", insistiu Vladimir Putin que, na véspera, havia criticado os ocidentais por ameaçarem esta estabilidade, ao querer impor a sua dominação.
Embora a Sérvia aspire a entrar na União Europeia, recusou-se a apoiar as sanções internacionais adotadas contra a Rússia após a anexação da Crimeia.
Além das relações históricas com o "grande irmão ortodoxo eslavo", o entusiasmo na Sérvia também é explicado pelo apoio de Moscou à questão do Kosovo, cuja independência é rejeitada por Belgrado.
Graças ao veto da Rússia, Kosovo, uma antiga província sérvia da qual Belgrado perdeu o controle em 1999 após os bombardeios da OTAN, não pode se juntar à ONU.
Consciente da popularidade de Putin, o presidente Aleksandar Vucic assegura ser muito próximo do líder russo.
Nos últimos anos, a Rússia sofreu algumas derrotas diplomáticas nos Bálcãs, como em 2017, quando não conseguiu impedir Montenegro de entrar na OTAN, algo que a Macedônia tenta atualmente.
Se a Macedônia conseguir, todos os países que fazem fronteira com a Sérvia estarão na esfera da OTAN, exceto a Bósnia, cujos representantes sérvios no governo o impedem.
Segundo Maxime Samorukov, analista no Centro Carnegie, a visita de Putin é especialmente importante para a Sérvia. "Os Bálcãs são de pouca importância" para Moscou e não são "uma prioridade da política externa russa".
De acordo com um estudo de 2017 do governo sérvio, 24% dos habitantes acreditam que a Rússia é o maior país doador, quando, na verdade, 75% das doações vêm da União Europeia (UE) ou de países-membros do bloco
No que diz respeito aos investimentos diretos e trocas comerciais, a proporção é similar em favor da Europa.