O governo colombiano atribuiu nesta sexta-feira aos guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) o ataque com carro-bomba ocorrido na véspera que deixou pelo menos 21 mortos e 68 feridos em uma academia de polícia em Bogotá.
"Um ato terrorista cometido pelo ELN matou essas vidas jovens", afirmou o ministro da Defesa Guillermo Boetero, referindo-se aos policiais entre 17 e 22 anos de idade da Escola de Oficiais General Francisco de Paula Santander, no sul da capital.
As autoridades trabalham na identificação dos corpos e temem que o número de óbitos possa aumentar.
O autor foi identificado pelo Ministério Público como José Aldemar Rojas Rodríguez, de nacionalidade colombiana, que morreu no ataque.
O ministro Boetero disse haver "evidências concretas" de que Rojas Rodríguez era membro do ELN há mais de 25 anos.
"Este ato terrorista insano não ficará impune. Os colombianos nunca se submetem ao terrorismo, sempre o derrotamos. Esta não será a exceção", disse o presidente Iván Duque em declaração à imprensa ao lado do procurador-geral, Néstor Humberto Martínez.
"O governo nacional sabe e entende que o ELN não tem disposição para a paz", declarou o comissário para a paz Miguel Ceballos, em entrevista na sede da presidência.
O veículo, que, segundo o MP, tinha passado por uma revisão em julho de 2018 em Arauca (fronteira com a Venezuela), explodiu durante uma cerimônia de promoção de oficiais e cadetes.
O Ministério Público recordou que líderes do ELN se refugiam na Venezuela, país submerso em uma severa crise econômica sob o regime do presidente Nicolás Maduro, mas Botero esclareceu que não há evidências do envolvimento de funcionários venezuelanos no atentado.
O poderoso dirigente chavista Diosdado Cabello negou qualquer envolvimento de Caracas no atentado, declarando que "os lacaios do imperialismo apontam para a Venezuela, mas não temos nada a ver com essa guerra, condenamos qualquer ato de terrorismo e levantamos as bandeiras da paz".
"Andam a burguesia e a oligarquia colombiana ao lado dos lacaios venezuelanos tratando de vincular a Venezuela a fatos terroristas na Colômbia" para desestalizar a Venezuela, denunciou Cabello.
Esse foi o pior ato de terror na capital colombiana desde fevereiro de 2003, quando os rebeldes do atual partido Farc detonaram um carro-bomba no clube El Nogal. Trinta e seis pessoas morreram, e dezenas ficaram feridas, nesse episódio.
- 'Não vamos ceder' -
Diante do ataque, o presidente Duque precisou voltar às pressas para Bogotá, após cancelar um evento de segurança em Quibdó (noroeste). O governo decretou três dias de luto nacional.
"Eu dei ordem às forças militares e à polícia nacional para mobilizar todas as suas capacidades de Inteligência e determinar, em coordenação com o Ministério Público, quem é responsável por este ataque covarde e impedir qualquer ação criminosa", disse.
Ele também alertou: "Nunca vamos ceder a atos de terror, a Colômbia é firme e não se intimida".
Duque, que assumiu o cargo em agosto de 2018, tem endurecido a política de combate às drogas no país, maior produtor de cocaína do mundo, e estabeleceu condições para reavivar as negociações de paz com o ELN, última guerrilha ativa no país.
Além do ELN - que, no passado, admitiu ataques com explosivos contra a polícia -, também operam no país gangues de narcotráfico de origem paramilitar e dissidências das Farc, que lutam pelo controle territorial em meio a uma espiral de violência seletiva contra líderes sociais, que já deixou 438 mortos desde janeiro de 2016.
Há um ano, a polícia também foi alvo de um ataque a bomba dentro de uma delegacia em Barranquilla. Seis militares morreram e 40 ficaram feridos. Dias depois, o ELN, cuja delegação de paz está em Havana, assumiu a ação.
- Solidariedade internacional -
Do escritório da ONU na Colômbia até os Estados Unidos, passando pelo governo da Venezuela - com o qual Bogotá congelou as relações - e pelas Farc, autoridades do mundo todo condenaram o ato e expressaram solidariedade.
O papa Francisco também condenou o "cruel" atentado, de acordo com um telegrama divulgado nesta sexta pelo Vaticano. Na carta, dirigida ao cardeal Rubén Salazar, arcebispo de Bogotá, o papa expressa "seu mais profundo pesar pelas vítimas que perderam a vida em uma ação tão desumana".
No telegrama, assinado pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, em nome do sumo pontífice, Francisco "condena mais uma vez a violência cega" e "eleva sua oração ao Senhor para que ajude a perseverar na construção da harmonia e da paz nesse país".
Com cerca de 8 milhões de habitantes, Bogotá foi abalada por atos esporádicos de terror em 2017. Em fevereiro daquele ano, o ELN assumiu a responsabilidade por um ataque a uma patrulha policial que matou um soldado e feriu gravemente vários outros no bairro de Macarena, em Bogotá.
Nesse mesmo ano, um ataque em um centro comercial de Bogotá deixou três mortos e vários feridos. As autoridades acusaram o Movimento Revolucionário do Povo (MRP), um grupo de esquerda.