O presidente Andrés Manuel López Obrador disse nesta quarta-feira (30) que acabou a batalha militar contra as drogas e que perseguir os chefes não é prioridade para seu governo, embora promova a criação de uma polêmica guarda nacional, considerada pelos críticos uma militarização do México.
"Não existe guerra, oficialmente já não existe guerra. Nós queremos a paz, vamos conseguir a paz", indicou López Obrador ao ser questionado em sua coletiva de imprensa matinal sobre se durante a sua presidência, iniciada em 1º de dezembro, algum chefe do narcotráfico foi detido.
"Não prendemos chefes porque essa não é a nossa principal função. A função principal do governo é garantir a segurança pública (...) O que buscamos é que haja segurança, que possamos diminuir o número de homicídios diários", acrescentou.
Especialistas em segurança assinalaram que apenas a captura dos chefes do narcotráfico não é suficiente para acabar com a criminalidade e que, de fato, isso contribuiu para que os braços armados tomassem o controle dos cartéis e multiplicasse o número de células autônomas, marcadas por um elevado grau de violência.
López Obrador tem sido por anos um duro crítico da estratégia militar contra as drogas, lançada em dezembro de 2006, que foi acompanhada por uma onda de violência. Desde então, somam mais de 200.000 homicídios, segundo cifras oficiais, que não detalham, contudo, quantos casos estão ligados ao crime organizado.
O presidente, de 65 anos, anunciou uma série de ajudas sociais, pois, segundo considera, a pobreza é o que leva muitos a entrarem para o mundo do crime.
Como candidato, lançou uma proposta polêmica de anistiar criminosos, mas esta foi se dissipando em meio a uma onda de protestos, especialmente de familiares de vítimas de crimes.
Na campanha, López Obrador disse que devolveria os militares aos quartéis, mas, já como presidente, lançou uma iniciativa de reforma constitucional para criar uma guarda nacional com dezenas de milhares de soldados.
Organismos defensores dos direitos humanos nacionais e internacionais, partidos da oposição e alguns membros do partido governista, Morena, criticaram duramente a iniciativa por considerar que conduz à militarização do país e contraria as promessas de campanha.
A reforma, que exige o apoio de dois terços do Congresso bicameral, já foi aprovada pela Câmara dos Deputados com os votos do Morena, apoiado pelo ex-governante Partido Revolucionário Institucional (PRI).
A iniciativa foi remetida ao Senado, onde o Morena precisará novamente do apoio do PRI, que alertou, no entanto, que irá apoiá-la apenas com modificações.
Em 2018, o número de homicídios no México disparou para 33.341, o mais alto desde que os registros nacionais começaram, em 1997, de acordo com estatísticas do governo.