O opositor Juan Guaidó, apoiado por 40 países que o reconhecem como presidente interino da Venezuela, redobrará a sua pressão pela entrada de ajuda humanitária, desafiando o mandatário Nicolás Maduro, que a considera o início de uma intervenção militar dos Estados Unidos.
O Parlamento, de maioria opositora, e colaboradores de Guaidó analisarão nesta terça-feira (5) os avanços do processo de armazenamento de remédios e alimentos que começaram a ser enviados dos Estados Unidos para a Colômbia, na tentativa de fazê-los chegar à vizinha Venezuela.
"Aqui na Venezuela não vai entrar ninguém, nem um soldado invasor. Nesta terra ninguém toca", sentenciou o presidente socialista, que conta entre seus aliados com Rússia, China, Turquia e Irã.
A ajuda humanitária é o novo desafio de Guaidó, após ser reconhecido na véspera como presidente interino por 20 países europeus, ao fim de um ultimato dado a Maduro para que convocasse "eleições livres".
"Querem mandar dois caminhõezinhos com quatro panelas. A Venezuela não tem que mendigar a ninguém. Se querem ajudar, que acabem com o bloqueio e as sanções", disse o presidente, assegurando que não permitirá que "humilhem" o país com o "show da ajuda humanitária".
Durante a noite, militares venezuelanos bloquearam uma ponte na fronteira com a Colômbia. A cisterna de um tanque de transporte de combustível e um gigantesco contêiner de carga bloqueavam a passagem na ponte Tienditas, que liga as cidades de Cúcuta (Colômbia) e Ureña (Venezuela), constatou uma equipe da AFP na área.
Franklyn Duarte, deputado no estado fronteiriço venezuelano de Táchira, disse à AFP que "efetivos das Forças Armadas bloquearam a passagem" durante a tarde.
Segundo Duarte, a passagem na ponte foi bloqueada depois que um incidente confuso ocorreu em Ureña quando os soldados chegaram em veículos blindados para vigiar a fronteira.
Três pessoas ficaram feridas, diz o legislador, depois que um tanque atingiu alguns motociclistas.
"Eles podem colocar uma parede e não impedirão a entrada da ajuda", disse o deputado.
Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares, e o Canadá, de outros 40 milhões, uma "esmola", segundo o governo venezuelano.
Maduro acusa Washington - com o qual rompeu relações diplomáticas - de usar Guaidó como "fantoche" para derrubá-lo e se apropriar do petróleo venezuelano, e os países europeus de apoiar esses "planos golpistas".
Fortalecido com o reconhecimento de 20 governos europeus, que se soma ao de Estados Unidos, Canadá e 12 países latino-americanos, Guaidó também pedirá ajuda humanitária à União Europeia (UE).
Além disso, solicitará a proteção de contas e ativos venezuelanos, como os Estados Unidos fizeram, que embargará a compra de petróleo venezuelano a partir de 28 de abril.
A Comissão Europeia anunciou nesta terça uma ajuda de 5 milhões de euros a mais para enfrentar a crise na Venezuela, o que eleva a ajuda humanitária para o país em 39 milhões desde 2018.
Bruxelas, que geralmente envia sua ajuda para a Venezuela por meio de organizações internacionais, também anunciou sua intenção de abrir um escritório humanitário em Caracas.
Também nesta quinta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a UE de tentar derrubar o presidente Maduro.
"Sabemos agora o que a é a UE. De um lado falam de eleições e democracia e depois, de maneira violenta e com artimanhas, tentam derrubar um governo", disse Erdogan.
Na terça-feira, 19 países da UE reconheceram o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Ele se autoproclamou presidente em 23 de janeiro.
"A Venezuela é sua província?", perguntou Erdogan, em uma mensagem aparentemente direcionada a Washington.
"Como podem dizer a alguém que chegou ao poder por meio de eleições que saia? E como colocam na presidência alguém que não foi eleito?", questionou.
No dia 23 de janeiro, Erdogan ligou para Maduro e expressou apoio.
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