Jornal Estado de Minas

Comissão Europeia rejeita projeto de fusão entre Siemens e Alstom

A Comissão Europeia rejeitou nesta quarta-feira (6) a fusão da companhia alemã de ferrovias Siemens e sua rival francesa Alstom, ignorando, assim, os pedidos para autorizar a operação para fazer frente à concorrência da China.

"Essa concentração teria implicado um aumento de preços para sistemas de sinalização que garantiriam a segurança dos passageiros e das futuras gerações de trens de alta velocidade", afirmou a comissária europeia Margrethe Vestager.

Anunciada com grande empolgação em 2017, a fusão foi recebida como o nascimento de um campeão industrial europeu muito necessário, uma espécie de Airbus no setor ferroviário em face da concorrência chinesa.

Mas após meses de investigação, a Comissão rejeitou a operação, considerando também que "as partes não propuseram medidas corretivas suficientes para remediar" os problemas apontados por Bruxelas.

O veto, que era esperado nos últimos dias, enfureceu Paris, onde os ministros fizeram grande pressão pela fusão, considerando-a uma medida necessária para competir com a chinesa CRRC, apoiada por Pequim.

O diretor-geral da Siemens, Joe Kaeser, que, na semana passada, disse que "tecnocratas retrógrados" frustrariam a operação, lamentou a decisão e pediu à Europa que realize uma "reforma estrutural".

"Proteger os interesses dos clientes em nível local não deve significar que a Europa não possa estar em igualdade de condições com os principais países, como a China, os Estados Unidos e outros", declarou.

- Alstom desiste de fusão -

Vestager defendeu a decisão em uma coletiva de imprensa, dizendo que "nenhum fornecedor chinês participou até agora de uma oferta pública na Europa para vender sua sinalização nem fornecer um trem de alta velocidade fora da China".

Já o grupo francês anunciou que desistiu de seu projeto com a Siemens.

"A Alstom agora se concentrará em continuar seu crescimento como líder mundial no setor de mobilidade", disse em um comunicado.

O veto de Bruxelas deixa uma marca pessoal em Vestager aos olhos da França e da Alemanha, depois de ser considerada por muitos anos uma estrela em ascensão da UE.

A comissária europeia foi saudada como uma heroína no continente depois de enfrentar os gigantes tecnológicos americanos Google, Facebook e Apple.

Na sequência destes anúncios ruidosos, Vestager pode vir a assumir um papel mais importante em Bruxelas após as eleições europeias em maio.

A Comissão Europeia acredita que essa aliança esmagaria grupos menores e aumentaria os preços para as companhias ferroviárias, com a fusão em uma posição dominante para a venda de trens de alta velocidade, entre outros.

- 'Tecnocratas retrógrados' -

As autoridades de concorrência de Reino Unido, Holanda, Bélgica e Espanha apoiaram fortemente Vestager, temendo o aumento dos custos de suas ferrovias nacionais.

Os defensores da operação queriam, porém, que a comissária olhasse para fora da Europa, atenta à ascensão do CRRC, uma entidade nascida da fusão de empresas chinesas, antes que seja tarde demais.

"Não há áreas como a aviação, as ferrovias, ou os bancos, nas quais o mercado mundial deveria ser tomado como referência, ao invés do europeu?", indagou o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier.

Nesta quarta-feira, Altmaier reforçou a vontade da França e da Alemanha de mudar as regras de concorrência da UE.

Antes da decisão ser tornada pública, seu homólogo francês, Bruno Le Maire, descreveu como "erro" que a Comissão não aceitasse a fusão.

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